quarta-feira, 24 de junho de 2015

Labor antropológico



Voltei-me assim que ouvi a expressão: enta, me menino? Era uma mulher dos seus 70 anos a dirigir-se a um rapagão de mais de 30 anos. Era esta a expressão que todas as mães, tias, avós e vizinhas chegadas usavam em Olhão para cumprimentar os mais novos. Este "mais novos" vai quase até aos 40, só depois dos primeiros cabelos brancos deixam de ser meninos. Agora já é mais raro ouvir-se. Gostava de ter um caderninho onde fixar todas estas coisas que o povo foi perdendo, esmagado entre centros comerciais e programas da tarde. O desejo de o fazer não significa saudosismo ou reinvenção à força, mas labor antropológico. Estamos a fixar apenas um tipo de identidade alojada em mega eventos (marchas, santos populares, festivais de fado...) deixando de lado o que inflitrava genuinamente o quotidiano. Aquele me menino tem uma carga afectiva de replicar no bom dia ou no olá, este último globalizado mas também inodoro e incolor.

~CC~

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