quinta-feira, 31 de março de 2016

Vê se vens para ficar


Primavera, estas visitas ocasionais deixam-me com mais saudades ainda, vê se vens para ficar. Preciso de ti.
~CC~



segunda-feira, 28 de março de 2016

segunda-feira, 21 de março de 2016

Homenagem


Com Caeiro
amo as estevas altas
o cheiro fresco e lavado das flores brancas
o bem inteiro que a natureza é

Com José Gomes Ferreira
vejo os eléctricos amarelos
cheios de mulheres de cabelos de chuva
paredes meias com incêndios de sol

Com Eugénio de Andrade
estou numa laje de pedra junto ao rio
onde corpos adolescentes
descobrem que há Primavera

Com Sophia
chegam deuses gregos
ilhas e paredes caiadas de branco
uma voz que sabe ao meu sul, todo esse mar

Com Rosário Pedreira
o amor faz-se luto
e a luz é uma nesga
que chega entre livros extraordinários

Com Peixoto
a luz e a escuridão embrulham-se
em vozes roucas de vinho de aldeia
latidos tristes de cães

Com Mário Henrique Leiria
o gin vem com o poema e dentro dele
e o riso é solto
um bocadinho amargo

Com Herberto
o corpo é tenso e dói
as bocas são feitas de raízes
e é assim que se beijam

Com  O´Neill
chega o portugal tristezinho
soletrado em sílabas pequenas
que nos fazem pensar

Com Adília Lopes
posso falar da minha máquina de lavar
eternamente avariada
um prejuízo no meu lar.

E acabo com as palavras do poeta com que comecei, são dele e afinal são do meu amor porque as palavras dos poetas foram feitas para serem roubadas e ditas ora alto como um grito, ora baixinho como uma carícia.

" O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos"

~CC~




domingo, 20 de março de 2016

A herança



Vejo a série a "Herança" no canal 2, é tão bom não ouvir falar as línguas dominantes do mundo, a série é dinamarquesa.  O enredo é interessante, os actores são bons, estranhamente uma família nórdica tem algumas semelhanças com a minha. Uma tendência para o caos que no entanto mantém todos à tona, um deslaçar que se enlaça ao último minuto, a provar que há qualquer coisa no mesmo sangue. Sobrevivência à prova de bala.

Semelhanças, não na herança, claro. Do meu pai herdei o gosto por ler, coisa que ganhei a folhear as muitas colecções de livros que fazia, a mais saliente na minha memória é mesmo a colecção da RTP, creio que dos anos 60/70.  Talvez também algum misticismo, ainda que sem norte, como no fundo era o dele. Uma tendência a ler as páginas dos horóscopos mesmo sem acreditar patavina (já ele traçava cartas astrais). O que me sobra de gosto pelas cidades, esse frenesim de vida. E sem dúvida os cafés, lugares onde passou mais de metade da sua vida. No dia do pai nem me lembrei muito dele, acho que nunca passei um dia desses com ele, tal comemoração só ganhou palco quando era já adulta e ele estava longe, creio que nem telefonava. São os outros, a comemoração dos outros que me leva até ele numa memória a que aprendi a tirar a dor.

~CC~ 

sábado, 19 de março de 2016

Resistir



Já aqui tenho dito como é difícil assumir formas de resistência numa sociedade em que as massas são a própria pressão, o pensamento hegemónico que se infiltra em tudo. A dificuldade está em pensar e agir fora da caixa nas coisas maiores e menores.

Por isso admiro quem, como Blu (pseudónimo de um artista italiano de street art), apaga as suas próprias obras de uma cidade que encheu delas para que não possam figurar numa mostra organizada por um grupo de bancos em conjunto com um grande museu. A ideia de autoria da dita sociedade é curiosa: pediu autorização aos donos das paredes e dos muros e não aos autores das obras. Blu e os seus amigos saíram pela noite para cobrir com tinta cinzenta paredes e muros onde antes estavam histórias contadas em desenhos, figuras emblemáticas, riscos vibrantes. Imagino a dor de apagar o que se criou. Bolonha amanheceu uma cidade mais pobre. Mas foi sem dúvida uma forma de resistir. Já há pouca gente assim.

~CC~

sábado, 12 de março de 2016

Hoje és tu


É o teu dia, parabéns.

Quase nada correu como previsto, diria que correu mal se não tivesse acabado tão bem. Não acredito que todas as mães achem os seus bebés os mais bonitos do mundo e não me falharia tanto a objectividade, portanto eras mesmo um dos bebés mais bonitos que eu tinha visto, ou seja, um dos mais bonitos que nasceram no mundo.

O teu nascimento mostrou o quanto o pessoal da saúde tem dificuldade em confiar nos pacientes, sim, que eu nem doente estava. Deram-me uma máquina para controlar a dose da epidural, deveria carregar à medida que sentisse dor mas a enfermeira achou que deveria ser ela a fazê-lo e portanto exagerou na dose até eu não sentir dor nem nada mais, esqueceu-se que ela não estava dentro do meu corpo. Mas como quase todos os factos da vida isso é apenas uma forma de olhar o que aconteceu, se ela não tivesse exagerado na dose, o forceps não teria sido talvez tão fácil. Tudo correu assim bem, foi só uma forma de nascer mais assustada, mais difícil, mais corajosa para puderes transitar do do apgar 7  até à vida plena. No mês difícil que se seguiu, em que praticamente não pude sair da cama, era a tua luz, a tua beleza, a doçura do teu cheiro e da tua pele de bebé que conseguiam curar-me.

Uma vez uma pessoa amiga disse-me que naquele momento da vida queria tudo menos ser mãe e tinha três filhos, foi uma coragem enorme ela tê-lo dito, ter se consentido isso, numa sociedade que reprova tanto as mães, rapidamente transformando tudo em condenação. Nunca senti tal coisa estes anos todos mas se o tivesse sentido acho que me teria consentido dizer. Senti muitas vezes o contrário: que devia ter tido mais filhos; que tu eras uma alegria constante na minha vida. Continuo a sentir que és um motivo para eu viver como o foste logo após o teu nascimento. Continuo a ver na tua sede de vida uma inspiração. 

~CC~






quarta-feira, 9 de março de 2016

Hoje já não é dia da mulher


Agora que já passou o dia da mulher já podemos em paz ser mulheres. O comércio agarra tudo, até dias que deviam ser genuínos na luta e no grito. Transforma-se a revolta num menu de jantar do dia da mulher, na florzinha que o patrão resolve oferecer nesse dia, no coração a adornar a vitrine da loja a dizer; é dia da mulher, leve um presente à sua. Não recebi presente nenhum, as flores no meu trabalho acabaram a grande velocidade e fiquei sem nenhuma e também não fui a nenhum jantar com amigas. 

Por acaso calhou neste dia uma sessão de formação sobre as questões de género e educação que temos vindo a desenvolver desde o início do ano e a discussão foi interessante, a sessão viva e animada, também não pude ir, mas soube pelas minhas colegas e senti o seu entusiasmo e esse foi realmente o meu presente. Sabemos que nada está conquistado nunca, nem mesmo aqui no célebre mundo ocidental. Precisamos assim do trabalho da aranha que pacientemente tece para que se forme uma teia sólida e real, livre dos artifícios que estão criados em torno destas datas comemorativas.

~CC~


sábado, 5 de março de 2016

É o teu dia


É o teu dia meu amor.

Que envelheças como o mais velho que a teu lado toca.  Faz como ele, transforma as fraquezas, dobra as forças, ignora o que não interessa. Veste camisas azuis, ficam-te bem, dessas com quadrados grandes e pequenos.

Não deixes de trazer a viola, um beijo para mim, um abraço aos amigos.

~CC~







quarta-feira, 2 de março de 2016

Assim sim, dá gosto ir ao WC!

 



~CC~

(Afixadas no WC das mulheres do "Prego da Peixaria", vejam lá se não sabem como agradar às clientes! ...no entanto, estive mesmo para dar um saltinho ao WC dos homens, para ver o que tinham lá escrito).