quarta-feira, 24 de maio de 2017

É difícil



Voltei ao yoga, desta vez adaptado a doentes oncológicos. Deve ter sido por essa pequena diferença que o professor nos propôs apenas relaxamento. Uma hora deitada no chão, conduzida pela voz dele, pelas ideias dele de paz interior.

Ir lá aos lugares felizes, a essa lembranças, associar-lhe uma cor. Como é que uma coisa tão fácil pode ser tão difícil. Lembrar momentos felizes. Nada me aparecia nítido, suficientemente capaz de me inundar, de me levar. Mais queria sair dali, fugir.

Depois consegui, fui até aquele campo de tremocilhas junto ao rio mira, ao Alentejo na Primavera, tu e eu e as nossas duas meninas, ao monte que cruzámos no meio das flores. Foi uma coisa que apareceu. E amarelo, o amarelo a pintar o verde daqueles campos. Ele insistia nas coisas felizes mas eu não fui capaz de ir mais longe, a mais momentos. Depois dei um salto enorme no tempo e lembrei-me da minha filha, do bebé lindo que ela era e de a ter ao colo assim pequenina. Mas fixo-me nessas coisas muito tempo e ele já está noutra coisa qualquer, tudo me demora tempo e esforço. Sempre a vontade de sair dali e ter que a conter, saber que é importante conter esse pensamento.

Quando acaba, ele pergunta-me como foi e tenho que dizer que foi difícil, muito difícil. E ele acerta: é-lhe difícil estar uma hora sem fazer nada? Sim, é. No entanto, foi uma aprendizagem que fiz no hospital e que não posso perder agora. Sim, ficava muito tempo sem fazer nada, só a pensar, tanto no hospital, como quando vim para casa. Mas agora o corpo pede cada vez mais movimento, a cabeça também. Mas quero parar. Uma hora no chão sem fazer nada, que difícil foi.

~CC~

6 comentários:

  1. Olá, CCF..
    Obrigada pela visita. Estás a passar ummau bocado, parece-me. Melhoras Fé e confianca
    Kis :=}

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  2. CC, não temos todos de nos sentir bem e de nos sentir confortáveis em exercícios de relaxamento ou de meditação feita desse modo. Eu não gosto e temo quando há disso nas aulas de Pilates. Acabo por estar ali deitada, simplesmente.

    Depois daquele ano parada por motivos de saúde, quando retomei fui para aulas normais, apesar das adaptações que me vão fazendo e de forma discreta.

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  3. Agostinho da Silva dizia que a maior virtude do ser humano é não fazer nada, que o mais importante de todas as coisas é saber contemplar. E isso é certamente uma das coisas mais difíceis de fazer.

    Um abraço, CC :)

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  4. Quando não tenho tempo para nada, anseio por tempo para poder não fazer nada. Se sou forçada a não fazer nada, a coisa não sai lá muito bem. :)

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  5. tenho um amigo que diz que é a nossa recusa em olhar para dentro, mesmo que seja inconsciente. ele costuma acertar :)

    bom dia, CC

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  6. Avó Gi, obrigada também pela visita, penso que o pior já passou!
    Isabel, nunca me senti bem nestas coisas, mas acho que é por sempre ter sido frenética e ter abandonado todo e qualquer misticismo por volta dos 20, mas agora sinto que tenho que abrandar e talvez isto ajude.
    Miss Smile, sem dúvida!
    Luísa, eu também era tal qual, agora ando a aprender como sou, como fiquei.
    Ana, extrema dificuldade em pensar no passado é uma coisa minha, sempre pensei mais no futuro. Bom dia Ana e bom fds que aí vem, talvez lhe traga chuva.
    ~CC~

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