segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Frágil



Tenho uma dolorosa consciência da fragilidade de tudo. Não me assombra mas às vezes assusta-me. Ainda hoje um pássaro morreu contra o vidro do meu carro em plena auto-estrada do sul, afastou-se apenas ligeiramente do bando mas não subiu a tempo de evitar o embate enquanto os outros o fizeram. Estava demasiado vento e isso deve ter atrapalhado os seus cálculos. Apeteceu-me parar e chorar copiosamente a sua morte injusta. Nesse momento tive consciência também da minha própria fragilidade. Fechei os olhos sem os fechar verdadeiramente, parei para um café, e agarrei-me à vida como sempre faço.


~CC~

6 comentários:

  1. Não tem que sentir culpa CC por viver na era da técnica e haver automóveis e o pássaro vir a voar baixinho.
    A fragilidade que me assusta mais é a das relações humanas e logo a seguir a da condição humana. O ter, a moda e o consumo, alteram e alienam o ser, e submetem-no às regras da necessidade de aceitação social na vida coletiva.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Joaquim, culpa não, tristeza sim. Se dúvida, a fragilidade que refere é a mais assustadora.
      ~CC~

      Eliminar
  2. Julgo eu que à medida que os anos passam agudizam essa sensação de fragilidade. É o sentimento de apenas sabermos o agora. Basta um instante para que aquilo que é deixe de ser. Penso nisso sobretudo em relação às pessoas de que gosto, um dia vou por elas e não existem. Ou o inverso.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez seja da idade, talvez não, eu relaciono mais com aquele momento em que soube que estava doente, no dia anterior estava tudo bem, no dia seguinte o (meu) mundo estava em total ebulição.
      ~CC~

      Eliminar
    2. não tenho essa experiência de tudo bem e da viragem para o tudo mal. Mas sei que existe. E deve ser um choque, buraco que se abre à nossa frente e não se pode evitá-lo. As minhas doenças, das mais graves às menos, foram vindo, fazendo-me notar que algo não funcionava mais ou estava seriamente danificado.

      Eliminar
  3. Em mais do que uma ocasião quase me sucedia episódio semelhante, mas no último segundo o passarinho sempre conseguiu salvar-se. Eu é que não me livrei dos sustos.

    ResponderEliminar

Passagens