quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Quase assim como agora

 

Viveria assim a semana toda, de chinelos, vestidos largos e macacões simples. Assim, a acordar com o mar da janela, a molhar na sua espuma os pés, a falar de mansinho com os gaivotinhos e a espreitar as tiras de pano que volteiam no ar com estes equilibristas do vento e da água. Poderia ler, escrever, conversar com as visitas, alguém que se demoraria um pouco mais. Não seria bem esta casa mas teria assim um terraço como este, capaz de nos lavar a alma, enxotar as lágrimas, renovar os sonhos. Teria este rapaz que todos os dias no café me diz a sorrir "bom dia, seja bem vinda", naquela sua voz de açúcar que é lá do outro lado do Atlântico.

Depois escolheria um dia da semana para vestir roupa bonita, colocar brincos, sapatos de meio salto, uma fita ou um gancho no cabelo e descer à cidade para ver um filme, um teatro, comer um gelado, visitar as livrarias.

Uma vez por mês iria para mais longe, um festival, um evento, um congresso, a visita mais prolongada a um familiar, um amigo. A mala um pouco mais composta, a vontade de viagem, aquele sentimento da casa ficar para trás e a estrada se desenhar à nossa frente.

Tudo tão pequeno, tudo tão grande.

~CC~


4 comentários:

  1. Parece-me sonho muito solitário e muito sonho, com tudo compartimentado. Os outros e a sua contingência são-nos necessários e introduzem na vida de cada um uma constante de inesperado que modifica, torce e até torna inóquo o planeado. Mas também nos transportam e empurram no mundo contingente. Mesmo se não ultrapassam a sua natureza. E, em férias ou ainda perto delas, o espírito dá-se a tais liberdades, descansa.
    Bom Dia, CC

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    1. Sonhos de vida pós trabalho:) Que longícuos ainda ficam...

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  2. bastava-me acordar e poder escolher livremente o que fazer de cada dia

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