Ontem fui pela segunda vez entrevistar um pequeno grupo de imigrantes de origem asiática num meio rural de pequena dimensão. Da primeira vez comovi-me. Mas desta segunda vez indignei-me. Vim de lá às 19h30m e deixei a televisão desligada, não fui capaz de ver nada. Fiquei assim um bom tempo no silêncio e triste. Ali está a desordem do mundo no seu pleno. Entre a zanga, a esperança, a gratidão, eles vivem sem futuro, a palavra amanhã não é pronunciável.
Ajudou-me que a rua também estivesse totalmente silenciosa, durante uma duas horas nada se ouviu, quase parecia o tempo da pandemia. E depois voltou o ruído mas sem festa e adivinhei porquê. Pouco a pouco voltei a mim e esbocei um sorriso com a série do canal 2, vivida num hotel à beira mar. E adormeci. Algum tempo depois acordei com os sinais de ansiedade que de quando em quando me visitam sem nome, sem origem conhecida, sem destino aparente. É a sensação de suor, tremor e falta de ar. É levar até ao limite para não tomar o comprimido e entristecer com cada capitulação que se faz ao químico. Penso no que o poderia substituir. Um quintal para ver as estrelas? Um lugar mais fresco para morar? Alguém a quem ligar? Um tempo sem trabalhar? Voltar com muito mais regularidade ao yoga? Psicoterapia?
Adormeci na cogitação de futuros e acordei mais tarde do que o habitual. E senti-me leve outra vez como as pessoas dizem que pareço estar, há quem diga mesmo que nunca me viu tão feliz, outros tão nova e há mesmo quem, como esta manhã, na loja, peça o segredo.
~CC~