domingo, 31 de março de 2013

Tanto mar, tanto mar...





 
 
Procuremos essa semente!

~CC~

Devolver por favor

Por favor, se quiserem até podem levar dez por cento do que está para aí nos bancos mas deixem-nos o céu azul. Esta troika cinzenta anda a arruinar-nos a Primavera e isso não podemos deixar.
 
Boas Páscoas e afins.
~CC~
 
 
 
 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Dormir com Sócrates



No dia Mundial do Teatro fui ao teatro, ou seja, não fiquei a ver a entrevista do Sócrates. Não dei o tempo por perdido, a peça era magnífica (O Deus da Matança).
 
Tentei ver a entrevista depois, contudo, invariavelmente os políticos fazem-me sono, por isso vi apenas uns bocadinhos. Ao contrário de muitos que ouvi por aí comentar, gostei do uso da palavra narrativa. Em Ciência Política, a palavra usa-se para designar um processo de construção de uma verdade. Significa isso que se acumulam coisas para construir um edifício que se segura nelas para se mostrar ao mundo, mas essas coisas não são provas nem factos, são apenas palavras ditas, modos de ver a realidade, números cuidadosamente fabricados. Em suma, a verdade em política é apenas uma narrativa, por isso não há uma, mas várias verdades, que é como quem diz, não há verdade alguma. A narrativa do Sócrates é tão verdadeira como outra qualquer, como qualquer outra que se lhe oponha. Gostar dele ou não gostar já não tem qualquer importância, ele cumpre-se a si próprio e nesse aspecto é genuíno.
 
Todos estes políticos são velhos mesmo quando ainda são novos e envelhecem-nos com eles. Tudo o que há de bom a dizer e a fazer é parte de um outro terreno em construção. Não adormeço em vão, adormeço porque já não me interessa.
 
~CC~
 
 
 
 



terça-feira, 26 de março de 2013

O amor é sempre um lugar estranho


Nenhuma mão dada a outra mão. Nenhum abraço. Nunca um olhar cúmplice trocado no meio de uma festa. Nenhuma canção. Contudo, uma vida juntos. Dia a dia, tantos dias tem um ano. Anos, tanta coisa a acontecer dentro dos anos, os filhos a crescer, os aniversários ora de um ora de outro, tantos Natais. A casa, a casa grande para corresponder ao sonho da família grande, a casa perfeita. Tudo a bater certo e ainda assim a dúvida persistente: havia amor?!
 
Tempo, tanto tempo juntos. Abraços talvez trocados assim incolores, invisíveis a terceiros. Uma vida tão grande quando quase todos os casais são de vidas curtas. Eles permanecendo.
 
No fim, junto à morte dela, aquele coração imprevisível de cravos brancos e a inscrição: com muito amor do....flores feitas coração, impossível imaginá-lo num homem tão contido, aparentemente um amante inexistente. O coração batia afinal, sabemos agora quando o dela deixou de bater. Terá ela sabido que o coração dele batia assim?!
 
~CC~

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia dela


Dos únicos dias que vale a pena festejar!



Pão e poesia
 

Se a vida fosse trabalhar nessa oficina

fazer menino ou menina, edifício e maracá

virtude e vício, liberdade e precipício

fazer pão, fazer comício, fazer gol e namorar

....
 
Moraes Moreira
 
 
E ainda para ir na senda deste vento nas espigas...


~CC~

terça-feira, 19 de março de 2013

Lá dentro o que há?!

Sim, talvez pudesse ser o meu. E tanto que queria espreitar para dentro do teu.


As senhoras



Juntas à roda da mesa com os cabelos bem penteados e os rostos pintados suavemente. Ao canto de um dos cafés mais emblemáticos de Lisboa e de gente que outrora foi rica, agora já não sei.
 
Elas tomam o chá como se nada neste mundo pudesse perturbar o ritual que lhes está entranhado no sangue quase azul. Uma delas parte o bolo de chocolate, talvez seja ela que faz anos. Não cantam contudo, nem há velas. Sorriem de modo doce e com cumplicidade e falam baixo. Talvez se juntem todas as terças para poderem saber como envelhecem. Talvez comemorem alguma coisa e por isso tenham trazido as flores que estão na mesa. Se calhar festejam sem nenhum homem por perto o dia do pai, na ausência daqueles que foram os seus pais ou pais dos seus filhos.
 
É uma mesa bonita, composta, são talvez mulheres que foram na vida apenas esposas. O modo como nada ali parece fora do lugar ilustra bem a classe social, o mundo em que viveram. Com que olhos poderão encarar o andar no prédio em frente que diz: casa em leilão. Já não se vende, já não se aluga, o banco simplesmente faz um leilão. Será que alguma delas é senhoria? Inquilina?
 
Aparentemente não sofrem, sorriem docemente como se o mundo delas não fosse aquele mesmo em que vivemos nesta danada convulsão.
 
~CC~
Vila Real, Verão de 2012

segunda-feira, 18 de março de 2013

Saber, compreender mais





 

Sim, ela explicou muito bem que somos nós, cidadãos contribuintes. O(s) governo(s) são apenas aqueles que gerem mal o nosso dinheiro.

~CC~

terça-feira, 12 de março de 2013

Lágrimas e sorrisos


Podia chorar hoje de alegria, afinal a minha filha faz dezassete anos. O beijo que lhe dei de manhã tinha de facto a luz da Primavera que ela anunciou.
 
Mas na volta do trabalho tinha a antena 1 ligada e o programa que não ouvi de início era, segundo percebi, sobre nutrição. Como é da praxe tinham uma convidada nutricionista para recomendar como se deve resistir a comer mal, mesmo em tempos de crise. Contudo, todas as vozes ecoavam ora uma tristeza grande ou uma revolta que se deixou completamente de conter e se espraia numa zanga que antes parecia inimaginável.
 
Comoveu-me apesar de tudo mais a tristeza que se indignava mas ao mesmo tempo continha as lágrimas e guardava as armas de fogo. Chorei assim com o arquitecto que perdeu o seu trabalho e depois disso o subsídio de desemprego, entregou o filho à avó para que ela pudesse alimentá-lo convenientemente e que disse à senhora nutricionista como se alimentava: pacotes de bolachas e latas de conserva. Talvez ele pudesse fazer uma sopa, talvez. Mas a tristeza quando se abate sobre nós também nos tolhe a criatividade, a imaginação, a vontade de fazer o que quer que seja. As bolachas estão ali no pacote e é só tirá-las, não alimentam, mas nada exigem.
 
Ele dizia que tinha mesmo que se ir embora mas nem sabia bem para onde, é que se os mais novos nasceram com mapas que lhes mostraram na escola um mundo grande, os mais velhos estão longe de ter crescido com esses horizontes.
 
A minha menina, inevitável pensar que mundo será o dela.
 
~CC~
 

domingo, 10 de março de 2013

Mapas (microconto)



M tinha sido um dedicado empregado dos correios, acompanhara a lenta mudança dos sacos de sarrapilha para as fardas de design e as maletas todas iguais e repletas de publicidade da agora denominada empresa. Tinha estudado lentamente, também ao sabor das mudanças das designações que o ministério da educação caprichosamente tinha encontrado; da simples educação de adultos ao ensino recorrente e depois ao pomposo nome de novas oportunidades. A sua melhor escola tinham sido, no entanto, as reuniões do partido. Aprendera o que significava a palavra sociedade, patronato, operariado e todo o amplo sentido da palavra luta. Os poetas chegaram muito depois dos neo-realistas, primeiro os que o partido recomendava, depois os outros e muito depois até os que o partido nunca recomendaria.
 
M pouco se lembra da sua vida para além dos desígnio que traçou para si próprio: deixar de ser analfabeto, na verdade só tinha aprendido a ler aos treze anos, depois de deixar a aldeia natal dos pais e se tornar moço de recados em Lisboa. M precisava como ninguém de saber os nomes das ruas e essa foi a sua motivação princípal, apontou as principais onde tinha que ir num caderninho, mesmo sem as saber decifrar, decorou-as. Também foi assim que começou a desenhar mapas.
 
Agora reformado M dedica-se a uma actividade completamente diferente e ainda assim muito semelhante. M ainda desenha mapas de Lisboa mas para localizar todas as paredes onde estão escritas frases de poetas. Perguntem-lhe por Fernando Pessoa e ele leva-vos lá, é de facto o poeta mais escrito nas paredes. Mas também há frases de Natália Correia, de Alberto, de Mário Cesariny, de Almada Negreiros. M sabe onde estão todas elas mas não pode descurar o seu novo ofício porque as frases aparecem e desaparecem e o seu trabalho nunca está acabado, completo.
 
M traça os mapas de si nestas frases, nelas cabem partes da sua vida, bocados do seu coração, dos nossos é provável que também.
 
~CC~
 
 
 

sábado, 9 de março de 2013

Andando por aí



Os empresários viajam muito, os grandes capitalistas imaginamos que também, talvez mais encapotados. Ou talvez nem precisem de viajar, basta um telemóvel e um portátil para deslocar capitais.
 
Estes últimos dias estive quase na pele deles, embora sem apanhar aviões, apenas comboios e taxis, domindo uma noite em cada cidade e ficando apenas no hotel sem nada ver da geografia dos rostos. Não ver as pessoas é fundamental em certos negócios. O hotel é uma especíe de território de ninguém, são quase indistintas as fardas dos funcionários e as suas frases, mais ou menos iguais as cores dos tapetes e dos cortinados e os plasmas de tamanho médio. Deve ser necessário não ver as ruas, os rostos, os olhos das pessoas para se exercer determinadas profissões, ou direi antes, funções.
 
No entanto, nós fomos a Trás os Montes. Seria impossível não ver as pessoas, eles dão mais ou menos abraços à moda de áfrica e apertos de mão vigorosos. O guião foi assim inevitavelmente quebrado. No final do dia, em vez de regressarmos ao hotel e à sua refeição inodora e incolor, levaram-nos entre vento e chuva pelas curvas e curvas da serra até uma aldeia. Parecia, à partida, ser um restaurante mas a luz estava apagada e ninguém lá dentro. Nós estavámos mais ou menos incrédulos por nos terem levado a um restaurante fechado depois do cansaço do dia e das curvas terríveis, ainda assim silenciosos como é conveniente a visitantes. Foi então que se abriu a porta de uma casa que ficava ao lado do restaurante e entrámos. A lareira estava acesa e uma criança brincava no sofá com a sua boneca. Ofereceram-nos a sua mesa de jantar e trouxeram umas maravilhosas entradas. Enquanto comiámos podíamos ver a senhora na cozinha preparando o prato seguinte com a ajuda da nora, enquanto o filho nos trazia a broa, o vinho, o sorriso. A senhora, maravilhosa cozinheira, talvez tenha respondido com três ou quatro palavras aos elogios que lhe dirigimos, contudo, manteve um sorriso quente permanente, um sorriso igual à comida que trouxe para a mesa.
 
Na volta um telefonema: vai lá ter e leva quatro copos, já sabes que és o aguadeiro. E ali brindámos com água quente a uma boa digestão e a que a vida nos trouxesse sempre gente tão simpática como esta. 
 
Creio que tal como na sala de aula quando se é professor, o afecto não prejudica em nada o objectivo do nosso trabalho, podemos ser e fomos critícos e elogiosos como seria desejável. A memória é, no entanto, traçada com o mapa dos rostos olhados, em vez de ser feita de geografia de hotel. No entanto, ainda assim, gostaria de ter visto mais cidade, mais gente.
 
~CC~
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Notas soltas




Os dias correm mais velozes do que os dedos para a escrita. A vida também, tantas são as coisas descobertas nestes últimos tempos, acasos dentro dos acasos numa composição de sangue quente, a abrir caminhos cujo fim desconheço. Tenho tanto para dizer, tenho sempre tanta vontade de escrever. Não é esse, no entanto o meu ofício e por isso o tempo rouba-me para todas as outras coisas, esta fica sempre no fim do caminho. Quando o coração quase rebenta, venho aqui. Se escrevesse mais, talvez este coração não desatasse a dar sinais súbitos de cansaço quando sobe as encostas. Antes de poder transbordar voltarei por aqui para fazer correr os rios.
 
A minha certeza do dia 2 de Março é qualquer coisa estranha, quase apolítica. Vou construindo cada vez mais a certeza de que só as pessoas valem a pena e de que todo o investimento que fazemos fora disso pouco vale.
 
Talvez seja por isso que a memória destes dias é também feita da tua pele na minha, do modo como vamos superando uma a uma cada coisa que nos distancia e jogando a mão a tudo o que nos aproxima e nos consolida para um futuro. Não há futuro certo hoje para ninguém, isso sabemos. Por isso só as pessoas podem ser o nosso terreno seguro, o único campo não minado, o último reduto de um mundo que vemos acabar sem saber bem o que fazer. Tu és o meu futuro e eu sou do teu futuro e assim o seremos na exacta medida em que depositarmos em nós essa crença. Metade da vida que acontece é feita da nossa vontade, a outra metade é a poeira que aparece para ajudar ou atrapalhar.
 
As pessoas, eis tudo o que se tem desperdiçado de mais valioso.
 
~CC~
 
 

domingo, 3 de março de 2013

Notícias da insatisfação (I)



Ligou-me a minha mãe no dia 2 de Março, por volta das 12h. Estava quase pronta e devia ir lindamente arranjada como sempre. Desta vez não ia ao café com a amiga, mas sim à Manifestação em Faro. Tem só 84 anos e nenhuma das filhas a levou, ela foi pelo seu próprio pé. Como muitas avós há muito que não vê o neto arquitecto, depois de dois anos no Japão e um ano e meio miserável por aqui fez as malas e lá partiu de novo. Há que lutar e viver o tempo suficiente para o receber com o arroz doce que ela faz e ele adora.
 
~CC~

sexta-feira, 1 de março de 2013

Rua mais linda...


Vamos para a rua amanhã?

Pendurar as nossas vozes nos caminhos da cidade?

Gritar novas cores para a vida?



Eu quero.

~CC~