Com Caeiro
amo as estevas altas
o cheiro fresco e lavado das flores brancas
o bem inteiro que a natureza é
Com José Gomes Ferreira
vejo os eléctricos amarelos
cheios de mulheres de cabelos de chuva
paredes meias com incêndios de sol
Com Eugénio de Andrade
estou numa laje de pedra junto ao rio
onde corpos adolescentes
descobrem que há Primavera
Com Sophia
chegam deuses gregos
ilhas e paredes caiadas de branco
uma voz que sabe ao meu sul, todo esse mar
Com Rosário Pedreira
o amor faz-se luto
e a luz é uma nesga
que chega entre livros extraordinários
Com Peixoto
a luz e a escuridão embrulham-se
em vozes roucas de vinho de aldeia
latidos tristes de cães
Com Mário Henrique Leiria
o gin vem com o poema e dentro dele
e o riso é solto
um bocadinho amargo
Com Herberto
o corpo é tenso e dói
as bocas são feitas de raízes
e é assim que se beijam
Com O´Neill
chega o portugal tristezinho
soletrado em sílabas pequenas
que nos fazem pensar
Com Adília Lopes
posso falar da minha máquina de lavar
eternamente avariada
um prejuízo no meu lar.
E acabo com as palavras do poeta com que comecei, são dele e afinal são do meu amor porque as palavras dos poetas foram feitas para serem roubadas e ditas ora alto como um grito, ora baixinho como uma carícia.
" O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos"
~CC~