A tendência dos outros para nos desapossar da nossa vontade em situações em que nos sentem frágeis é muita, ainda por cima com a benesse de que as suas intenções são boas e disso ninguém duvida. Que o digam os velhos a quem teimam tratar como meninos que não sabem decidir o que querem.
Vivemos mais ou menos entalados entre as ordens dos médicos, a vigilância da família, os milhares de conselhos dos amigos. Sinto-me muitas vezes quase como refém, alguém a quem está a ser vedado o pensamento, a vontade, a autonomia. Tudo me é recomendado, desde o creme para a pele ao que hei-de beber, quem consultar, que medicamentos tomar. As ordens e conselhos são provenientes de muitos lados e como tal nem sempre coerentes, às vezes fico confusa. Acresce que, pelo facto de precisarmos deles, isso nos deixa numa vulnerabilidade grande, muito mais susceptíveis a sermos manipulados. Metade ocorre sem que os próprios tomem consciência do facto de que nos passaram a tratar como crianças e não como adultos inteiros, e é isso que somos apesar de estarmos doentes. Mas as relações que se baseiam no poder sobre o outro e não na igualdade, que não reconhecem ao outro o direito de escolha e de saber o que racional ou irracionalmente é melhor para si, constroem sombras e não luz.
E luz, como eu preciso de luz!
~CC~