quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Afinal podemos mesmo ficar mais novos



Depois de quase seis meses de fisioterapia respiratória e reforço muscular (deste último vi poucos resultados), deixei com alguma tristeza o meu fisioterapeuta, um rapazinho doce e atencioso, assim como as meninas um pouco mais velhas que faziam parte da equipa e com as quais também acabei por criar uma relação. Sem darmos conta as pessoas entram nas nossas vidas, nas nossas rotinas e depois quando saem, fica algum vazio, mesmo que não tenham sido centrais, importantes, eu costumo dizer que são as nossas pessoas periféricas ou, na linguagem das redes, os nossos laços fracos.

Passei para o ginásio da mesma instituição. E a bem do rigor, lá fui sujeita a uma avaliação. Fiquei a saber com isso que a minha idade metabólica é de 37 anos, olha que maravilha (estou quase a fazer 53)! Fiquei logo amiga do rapazinho do ginásio, pois se apesar de ter idade para ser meu filho, ele me diz que rejuvenesci assim. Mais tarde contei à minha filha que se riu e exclamou com sapiência: Oh mãe, o ideal é termos menos 5 anos de idade metabólica em relação à real, o pior é isso em ti não ser natural, mas o resultado de um processo de doença. Fiquei um bocadinho menos eufórica, mas ainda assim esperançosa de ir rejuvenescendo cada vez mais, ainda que com conta, peso e medida, não me apetece nada ter menos que 30, aliás nos 42 estava óptima em peso, altura e no resto.

O pior é mesmo a paixão que eles nutrem pela proteína, lá fiquei a lembrar-me da embalagem que tenho lá em casa e na qual não toco. Faça batidos menina (pois, se tenho 37...), diz ele, orgulhoso dos seus músculos, são fáceis de ingerir para si. Inventá-los sem leite (e não me falem em leite de soja que detesto) é que é o diabo.

~CC~




terça-feira, 29 de agosto de 2017

Um amor estúpido



O que é um amor estúpido?

Aquele que encontro quando arrumo os papéis, um caderno cheio de sms passadas para ali depois de as apagar quando já se vivia o tempo das cinzas. Mas como pude fazer uma coisa dessas? Com que alegria o atiro para o lixo, como o pude guardar para lá de dez anos. Ainda bem que vivi o suficiente para ser eu própria a deitá-lo fora, em vez da minha filha ou outro ente querido.

Recordo que houve dois tempos de paixão e dois de cinzas e está tudo ali no caderno, até com esse intervalo. Antes de eu dizer que não haveria terceira, nunca mais. Antes de eu me dignificar, fui alguém que se estupidificou num processo amoroso. Ao descalabro da paixão adolescente tudo perdoo, fazia parte, ao eu adulto nem por isso. Mas aprendi tanto com aquele erro, mas tanto. Acho que já reconheço uma conversa de bandido ao longe, a sedução embrulhada na fragilidade, num piscar de olhos malandro, nuns lábios estendidos no final da primeira saída juntos, que ainda recusei, mas não por muito tempo. Tanto namoro em muitos mails, muitos sms por dia, muitos códigos amorosos, agora olhados de longe, tremendamente ridículos. Mas não me arrependo, viver a experiência de um amor sem amor faz-nos perceber tão bem como os peixinhos se deixam enganar pelo isco dos pescadores. Um amor pode ser tão grande ou se imaginar tão grande que chega para dois ou três, o outro não nos ama mas aparece tão iluminado pelo nosso amor que achamos que sim. Fui uma presa fácil, dócil e deslumbrada e, como tal, um bocadinho estúpida. Ao ler isto, reconheci-me. Incrivelmente também coincidiu com ter encontrado o caderninho e umas coisinhas mais. Arrependimento? Já nenhum. Nem raiva, nem ódio, nem nada, às vezes até consigo ter a memória de um momento terrivelmente bom numa coisa que era tão má.

Não há amores estúpidos estão vocês a pensar. Se calhar têm razão. Mas pensem duas vezes se não nos estupidificamos às vezes por amor, perdendo o norte e com isso nos perdendo a nós também.

E o que é um amor bom? Vou pensar nisso.

~CC~








segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Barrela



Lembro-me. Queria levantar-me para arrumar uma pequena pilha de papéis e não conseguia. Queria ajudar a levantar a mesa e não conseguia. Tomava um banho e ficava cansada. Vestia-me e tinha que me sentar de seguida. Primeiro os químicos, depois as operações, descontando o tempo longo do internamento, um ano quase inteiro deitada no sofá. 

É por isso que é agora tão importante que os dois quartos sejam pintados de novo, que tudo cheire a lavado, limpo, reorganizado. Ou talvez nem seja isso, seja eu conseguir fazer o esforço de arrumar, limpar, reorganizar. Ou talvez o importante seja eu ainda conseguir traçar um objectivo e fazer um plano para chegar lá. Ou talvez seja querer, importante é o que me resta da vontade, do desejo, da força. 

Água, sabão, lixívia. Purificar.



~CC~

domingo, 27 de agosto de 2017

Acaba hoje




Último dia para passar por cá mas podem sempre marcar na agenda do próximo Verão. Há mais para além da praia e dos festivais patrocinados pelas marcas de telecomunicações, este até é organizado por um pequeno teatro amador.

~CC~



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Algarve



Quase tudo agora no Algarve me faz lembrar o boom turístico dos anos 80. Talvez com menos estrangeiros, menos ingleses e alemães, mais franceses e espanhóis, mais vizinhos. Espero que a bolha não rebente como aconteceu nos anos 90 e quase bateu no fundo no raiar do século XX. Aprendemos pouco com os erros, repetimos, talvez por a memória ser curta, talvez porque os que encerraram as portas do comércio não sejam os mesmos que agora os abrem.

Numa das maiores e melhores geladarias de Faro vejo o mesmo rapaz a servir gelados entre as 12h da manhã e a meia noite. Tem sido sempre ele a atender-me e já sabe que vou pedir o sabor sem açúcar, não é muito simpático nem deixa de ser, cumpre. Não posso afirmar que não faça uma pequena pausa, mas deve ser pequena mesmo. Tem um ar extenuado e não deve ter mais que 18 anos. Trabalho temporário e pedidos escritos pelos vidros das lojas é o que não falta por aqui, pagos, contudo, miseravelmente. Lamentam-se ainda assim os proprietários, mas não abrem os cordões à bolsa para pagar um pouco mais. Também eu fui como aquele rapaz nos anos 80, acabava o dia com os pés e as pernas com dores horríveis. O trabalho em bares, restaurantes e afins é do mais duro que há, raramente se cumprem as 8 horas, não há contratos e muitas vezes a folga resume-me a uma tarde ou a uma manhã.

Também é isto o Algarve em Agosto.

~CC~

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Alentejo



Há anos que vou lá. Muito antes de ser moda aquele canto do nosso país, aquele bocadinho que faz parte da nossa maior praia contínua, de Melides a Tróia. E trato aquela pequena vila por tu desde que fizemos lá um trabalho com os alunos e até na Igreja nos deixaram cantar. Dos maiores prazeres que tenho é sentar-me no largo pequenino, junto a três ou quatro bancas de mercado, a ler ou só a ver as pessoas a passar. Já mudou muito mas espero que algumas coisas não mudem nunca, que a pressão turística não mate o que resta de genuíno e bom.

Nós entrámos no restaurante só às 14h mas às 14h30m o rapaz atendia o telefonema e perguntava alto ao dono: estão a dizer que são sete e chegam às 15h, aceito? E o dono a dizer que não, nem pensar, a cozinha fecha às 15h. Assim mesmo, Alentejo no seu melhor, ainda há quem não se venda, quem não veja no dinheiro um altar, a cozinha tem horas e pronto e ponto final. 

Amanhã há mais, venham mais cedo.

~CC~

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Foi por ela....



Um pensamento insistente, persistente, contínuo, um bocadinho ingénuo, qb de inconsistente. Nada a fazer, no entanto, quando um pensamento decide ocupar-nos, percorre-nos da cabeça à pele, invade.

Vivi para fazer isto, para estar aqui neste dia, para ver ainda esta pessoa, por esta companhia, por este cheiro, por este toque meigo, para ver esta dança na praça ao ar livre, pela beleza destas falésias, por...tudo o que o verão traz de único e singular.


É um pensamento triste, é ao mesmo tempo alegre, grande parte é uma celebração, contém um bocadinho de medo (não sei se voltarei para o ano, não sei se estarei aqui). Tenho muitas vezes vontade de chorar e nunca choro. Percebo claramente que as marcas são mais profundas do que imaginava, possíveis de esconder, contudo, como as cicatrizes que trago debaixo do fato de banho de natação, o único modelo que as esconde totalmente.

A canção do Fausto podia servir.
(ainda que me digam que esta "ela" é a Europa).

~CC~