Como vos dizer da infância.
Todos os natais da infância foram imensamente felizes. Por estar calor, pelos churrascos com piri-piri, pelas árvores da rua enfeitadas com cores, todas as cores possíveis. E o pai natal ia a África. O menino jesus, esse era mais distante, não nos visitava e missas do galo não combinavam com a roupa leve, nem tão pouco com as cervejas geladas que os adultos bebiam.
Soube pela primeira vez que o Natal podia ser também triste quando o passei pela primeira vez em Portugal. A casa despida, os colchões no chão, uma mesa pequenina de fórmica, os nossos haveres a caber todos num canto, a pobreza, o abismo. E o pai longe, muito longe. Mas foi a tristeza que me ensinou a procurar a alegria. Tudo aconteceu nesse Natal. Resume-se aí a batalha de uma família inteira: uma mãe, quatro filhos. Chegou uma caixa do outro lado do mundo com enfeites natalícios, lindos e maravilhosos enfeites. E mesmo sem árvore, enfeitámos toda a casa, colámos fitas nas paredes e pendurámos bolas onde era possível. Tudo se assemelhava a um carnaval natalício mas foi nesse vermelho dourado que rimos. Se calhar também chorámos. Nunca me esqueci daquele Natal, tenho dele uma cicatriz interior. E quando olho hoje para as cicatrizes que a minha pele tem das últimas cirurgias, vejo como elas não são nada quando comparadas com a outra,
Desde aí que basicamente só tenho procurado e valorizado uma coisa a cada Natal; tentar que os laços não se deslacem, que a cola não descole, que alguns sabores permaneçam, que os abraços aconteçam.
Abracem alguém e sintam que é tudo o que precisam.
A cada um de vós um abraço também.
~CC~