Obrigada Quino.
Sem ti os meus estudantes não teriam tido tantas oportunidades de rir nas minhas aulas. E de pensar duas vezes em quem somos e no mundo que vivemos. Tenho as minhas apresentações cheias dos teus bonecos.
~CC~
Obrigada Quino.
Sem ti os meus estudantes não teriam tido tantas oportunidades de rir nas minhas aulas. E de pensar duas vezes em quem somos e no mundo que vivemos. Tenho as minhas apresentações cheias dos teus bonecos.
~CC~
Há novos lugares instalados para o teletrabalho nos dois locais onde moro. As condições anteriores eram mínimas e péssimas e o meu corpo andava magoado. Em princípio chegará a autorização para ver o mundo desta janela, ainda a espero.
Hoje os colegas mais queridos repetiram, para me convencer, que seria só por mais algum tempo, que as salas de aula são muito pequenas e as condições bastante más, por mais que o tentem negar.
Mas não posso evitar a tristeza de não estar lá. Até do pó do giz tenho saudades. Já para não falar do sobreiro grande e dos risos, esses que às vezes me incomodavam.
~CC~
Esta noite tive o primeiro sinal de que, ao contrário do que tenho pensado, a pandemia teve algum impacto na minha saúde mental. Sonhei que estava presa em casa, não pelos 14 dias da quarentena, mas para sempre pois a minha doença era eternamente contagiosa para os outros.
Só se percebe a dor disto numa alma peripatética, pois muito embora eu não considere a terra o centro do mundo, muito gostaria de deambular por toda a sua superfície.
~CC~
És o próprio azul do mar.
E como ele sereno, tranquilo, lindo.
Se guardas dentro agitação, revolta e tempestade, é por o azul não ter apenas um tom, um modo de ser. Tudo o que se agita é também por ter vida.
O teu abraço é fresco, traz uma brisa e comporta um leve sabor a sal, sabe-me bem.
~CC~
(Parabéns minha querida!)
Voltámos ao meio corpo. Tenho vestido e brincos mas as havaianas calçadas.
As reuniões prolongam-se pelos dias. Ainda tenho dificuldade em dar o nome ao que sinto, em dizer se é bom, se é mau ou mais ou menos.
~CC~
Diria que a maior parte são emigrantes que aqui não encontraram trabalho ou que o encontraram sazonal e/ou mal pago. Mas há também idosos, sem abrigo, mulheres com filhos pequenos e que os trazem com elas. Poucos jovens, mas ainda assim alguns, podem ser mesmo universitários que uma vez deslocados vivem com recursos muito limitados.
Não percebo a organização da fila que me parece caótica nem sei como irão distribuir a comida. Mas vejo chegar o pão embalado, as saladas em sacos, a carne devidamente acondicionada...não se trata de dar restos mas sim comida em condições, muito embora provavelmente próxima do final do prazo de validade. Há várias organizações a fazer isto e até uma aplicação via TM que permite ir buscar a determinados restaurantes. Modelos alternativos à caridade, com outra dignidade. Era capaz de dar um bocado do meu tempo a uma organização destas, muito embora tenha tão pouco. Mas ao mesmo tempo tenho sempre receio de ver estas coisas por dentro, de me desiludir.
Eu também já acompanhei a minha mãe numa fila deste tipo, naquele tempo em que o nosso nome era "retornados" e íamos buscar o leite e as barras de queijo a uma organização holandesa. Ainda hoje recordo o sabor desse queijo, não era mau e alimentou-me muitas vezes. E é verdade que era triste mas mais triste era passar fome. Ninguém neste país devia passar fome pois está à vista o muito que se desperdiça. Mas temos que encontrar os modos certos para isso não acontecer e isso é, sem dúvida, mais difícil.
~CC~
Não consigo entender o meu envelhecimento. Tenho borbulhinhas pequeninas por todo o corpo semelhantes à varicela. Suspeito que as minhas células endoideceram de vez e querem voltar a ser crianças. Ou então terei voltado às grandes alergias que encheram a minha adolescência e idade adulta e que terminaram de repente com o teu nascimento. Em síntese, não sei o que me está a acontecer. Resisto às explicações simples dos ácaros e afins, pois a existirem a mais nesta casa, suspeito que sempre aqui estiveram. Há ainda a hipótese da gula e do meu fascínio por produtos exóticos, indianos e afins.
Corpo estranho, desconheço-te.
Na frutaria da moça chinesa que é tão simpática como bem falante da nossa língua compro mangas pequenas que são as únicas a ter o mesmo sabor que as compradas e comidas em Cabo Delgado.
~CC~
Vou começar a contar ao contrário....
"Uma vida normal" no meu cinema"...não vou
O Tito Paris no meu fórum...não vou
Ou seja coisas que esta semana me apeteciam muito: -2
Impacto no meu Índice pessoal de felicidade: ainda tolerável.
E quando já não houver sol e não puder ir junto ao mar? Não sei.
~CC~
Sem bandeja não me era possível levar 3 coisas, o café, o copo de água e o queque de banana e canela, uma novidade de acompanhamento. Pousei-o na mesa da esplanada enquanto regressava ao interior para trazer o que estava em falta mas quando cheguei vi apenas o prato.
Mais adiante, a gaivota comia-o a grandes bicadas, tinha vindo buscá-lo na minha curta ausência. É assustadora a mudança do comportamento destes bichos, cresci a imaginá-los à semelhança de Fernão Capelo.
~CC~
A vizinha desapareceu misteriosamente durante a pandemia. A varanda, antes tomada pelas amigas alemãs que bebiam madrugada dentro, falando em voz alta e soltando gargalhadas capazes de chegar ao outro lado da cidade, está agora tomada pelos pombos. Verão após Verão eu sabia que elas chegariam, que eu teria dificuldade em adormecer, que as vozes delas ficaram a ecoar na minha cabeça dentro dos sonhos. A vizinha parecia então outra pessoa, não baixava os olhos ao passar por nós, às vezes até sorria. Ora depois da morte do seu querido cão grande ela passou muito tempo sem sorrir.
A varanda está abandonada, suja e triste. Não sei o que fazer para saber dela sem ser intrusiva. Já pensei tocar à campainha, ligar para a administração do condomínio, perguntar ao vizinho que tal como eu e ela somos aqui os mais antigos. Nunca pedimos salsa uma à outra, nunca trocamos mais do que duas palavras, nunca nos ajudámos no que quer que fosse. Percebi, pelas suas ruidosas conversas na varanda, que muito me separava dela. Mas era também era uma mulher livre, senhora de si, disso eu gostava.
~CC~
Gosto muito das perguntas que a Ana faz a si própria.
O que aprendeste nas férias? É essa a pergunta subjacente ao seu texto. É bom pensar com os nossos botões.
Mas a minha resposta poderia ser quase oposta à dela pois a minha vida não se faz com três rapazes em casa, por isso ela aprendeu a estar só e eu aprendi novamente a estar rodeada de gente.
E mesmo antes das férias, no primeiro período de desconfinamento, quando começamos lentamente a sair. E não foi fácil. Ao contrário de muitos, custou-me o bulício da cidade, os restaurantes e as praias cheios, as vozes, as gargalhadas, os guinchos e os gritos.
A primeira vez que reuni uma manhã inteira com dois colegas de trabalho dos quais gosto muito e há muito ultrapassaram a barreira de serem apenas uma relação de trabalho fiquei emocionalmente exausta. Precisava urgentemente de silêncio, de não ouvir vozes, de não ter que prestar atenção a alguém, no final já praticamente não conseguia responder. Foi um bálsamo chegar a casa e estar sozinha.
Estar com crianças, vê-las brincar, interagir, suportar os gritos, as gargalhadas, o ruído, tudo isso tive que reaprender. Só aí tive a plena consciência da bolha em que vivi entre Fevereiro e Junho, do efeito do teletrabalho, da modificação das relações sociais e profissionais.
Eu, nas férias, aprendi o que era estar de manhã à noite, dias e dias, sem estar sozinha. E tudo o que a relação com outros implica: cedências, atenção, negociação, entrega, descentração. Tinha, em parte, desaprendido.
~CC~
Escolho o caminho mais longo para regressar a casa apenas porque por ele posso espreitar como está a luz sobre o rio agora que o Verão começa a declinar.
Escolho o café pela beleza da esplanada e comecei a ir a um apenas porque a proprietária a cercou de flores e tenho a ilusão de estar dentro de um jardim. Interrogo-me como faz para estarem sempre floridas.
Deito fora objectos úteis se estão velhos ou partidos mas guardo outros inúteis por serem bonitos ou me contarem coisas do passado.
Ia aos castelos de todas as terras e terríolas para ver o mundo de cima e respirar o odor das pedras antigas que contam histórias e por isso escolhi esta casa, tinha vista para dois castelos.
Uso receitas mas nunca as sigo completamente, mudo ingredientes e dosagem. Às vezes resulta, outras é desastroso.
Não sou totalmente isenta de racionalidade e sentido prático, sei o que são, aplico-os algumas vezes, sei aliás que foi isso que me deu rumo e me tornou auto-sustentável, a única coisa para que me serviram os pés na terra.
Mas a maior parte do tempo o meu norte é só pó de estrelas. Talvez por isso me custe a compreender as pessoas sem sonhos.
~CC~
Todos os dias a conversa do corredor para o Reino Unido. Serei eu a única farta desta conversa?
Não pode ser um corredor para o Japão? Parece que também por lá há gente rica, com possibilidades de animar o turismo do Algarve e da Madeira, sobretudo aquele que não se soube reconverter e consiste em colocar as pessoas meia dúzia de dias empilhadas numa torre cheia de quartos, as faz passar o dia em torno de uma piscina e os serões nocturnos em joguinhos de bingo e afins. Há uns anos num desses resorts uma estudante que apoiava num estágio tentou por tudo fazer uma feira de sabores locais, projecto que acabou no lixo, a administração dizia que os turistas procuravam os mesmos produtos que tinham em casa.
Em Sagres, o proprietário de uma das cervejarias mais conhecidas disse-me que desde o início do Verão que estava sempre tudo cheio ao almoço e ao jantar. Pela primeira vez, a maioria eram portugueses. Mas segundo ele, comem tanto ou mais do que os outros...e nem pedem peixe com batatas fritas...
~CC~
Setembro, um pouco adiante, é mês de nascer.
Por isso, Alexandra, não me importava mesmo de nascer com uma cabeleira afro, mais morena do que loura, se possível.
Por métodos naturais, o melhor que consigo é o que está na foto.
~CC~