O que procuramos quando viajamos? O que nos move a determinados lugares?
Na Grécia tudo é mito e é por ele que vamos lá. Por todos os que escreveram esse mito muitas e muitas vezes, todos os poetas que se vergaram a essa suposta transcendência pagã e ainda os outros crentes, aqueles que nos disseram que ali tinha sido o berço de tudo, da civilização, da democracia, da cultura, da beleza. E até do Ocidente, seja ele o que for. Homero escreveu os dois livros fundadores, a Odisseia e a Ilíada, ainda hoje considerados obras primas que devem constar de qualquer estante de um intelectual que se preze.
E há ainda o mito do azul e branco das ilhas, dessa autenticidade tecida entre filmes, música e por certo muitas capas de revista, este é um mito diferente, mais cor de rosa, conotado com a riqueza e o glamour Por isso os turistas apenas visitam a Acrópole e os dois bairros que com ela confinam e das ilhas apenas Mikonos, Santorini e, quanto muito, Corfu. Mas as ilhas são mesmo muitas e diversas, até as duas que visitamos e eram vizinhas, pouco tinham a ver uma com a outra.
Não sendo imune às narrativas que vingam sobre a cultura e os povos e tendo a alma cheia dos poemas de Sophia, não posso afirmar não ter sido essa turista, igual a tantas outras que nos 35 graus de Agosto suou na subida à Acrópole fascinada pela beleza do lugar e se comoveu dentro do museu com a antiguidade de certas peças datadas de 700 anos antes de cristo. Fui como todos são.
Mas tudo o resto é que foi mais importante. Tudo o que descobrimos entre barcos e espera por barcos para ilhas que não eram as da moda, tudo o que calcorreamos nos bairros menos conhecidos, no mercado, nas pessoas com as quais nos cruzámos, na história do país que fomos lendo em voz alta, desde os 7 séculos antes de Cristo aos 23 depois. Nos pequenos turismos cheios de gregos onde mal se falava Inglês.
A Grécia Clássica ocupou um período muito curto deste tempo histórico e, contudo, é essa a memória a que se volta, a que se promove, a que vende. Os homens gostam tanto de histórias e aquela é um imaginário riquíssimo, entre homens, deuses e semi-deuses constrói-se um sistema que fala de tudo o que apaixona, enriquece e amedronta a humanidade.
Mas o sentimento mais preponderante que trago de lá não é o de estar a Ocidente mas sim a Oriente. Nos paladares, na luz, no modo de falar e no modo de ser das pessoas. E muito, muito longe da Europa, mais ainda do que em Portugal. A Grécia é um país que faz fronteira com a Macedónia, a Bulgária, a Albânia e com a Turquia. Mas no nosso imaginário é como se estivesse colado a Itália e fosse o nosso berço de cidadania. Varremos muitos séculos do nosso imaginário, a Grécia é um país que só voltou a ter configuração com essa identidade no século XIX.
Aprendi muito. Desarrumei e arrumei mundos.
Com isso não quero dizer que não tivesse ficado igualmente deslumbrada com o primeiro mergulho no mar Egeu, transparente, salgado, sem ondas, quente.
~CC~