Finalmente a praia grande, a da areia fina, bem alojada na minha memória dos dias felizes. Creio risível ter claustrofobia nas praias pequenas ladeadas por rocha que num instante se fazem a pé e em que se parece sufocar no ínfimo espaço para estender a toalha, não obstante a sua beleza. Rio-me de mim mesma mas respiro bem melhor nas praias grandes que não parecem ter princípio nem fim e onde basta caminhar para encontrar espaço. A cor deste mar é tão bonita como a cor do mar na minha terra e tem uma transparência e uma calmaria que me faz sentir tranquila e em paz. Tenho consciência que o Verão está a acabar e que o meu número de banhos de mar ficou numa média muito aquém do amor que lhe tenho. Como tal, entro na água fria para lhe sentir o sal, suspeito que pela última vez. Venho despedir-me, murmuro. Não há peixe nem gaivota que me responda.
Encontrei um desenho de conchas na areia, eram grandes e bonitas. Quem apanhou conchas tão belas e as deixou ficar?! Trouxe cinco, deixei cinco para o próximo que as queira levar ou para o mar as engolir de novo. Não gastar tudo, não consumir tudo, não ter a avidez das coisas. Quase ninguém está nesta praia sozinha como eu, não anda pela cidade, não se senta para almoçar onde lhe apetece, às vezes sinto que me olham com pena. Mas eu sou feliz a conversar comigo, são longas conversas de mim para mim, momentos de introspecção absolutamente necessários para escavar e encontrar-me.
Cinco conchas e um último banho de mar.
~CC~