sexta-feira, 11 de outubro de 2024

A nobel da Literatura

 

Senti-me muitos frustrada com o três últimos prémios nobel, não conhecia nem tinha lido nenhum daqueles autores.

Agora finalmente sim. Li a Vegetariana e o Livro Branco. Os livros mais estranhos que alguma vez li. Ainda hoje não consigo dizer se gostei ou não de cada um deles. Com a Vegetariana senti a mesma sensação de náusea que senti com o Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, é como se a humanidade se tivesse perdido de si mesma, há uma tristeza colada a cada palavra e é como nos encerrassem num beco sem saída. Sofrer com os livros é uma coisa que me custa, não se trata de querer livros com histórias bonitas e finais felizes, é mais não conseguirmos encontrar empatia com aquele sofrimento, é essa a dificuldade. A mulher retratada na Vegetariana é um ser humano em absoluta queda e, no entanto, é difícil compreendê-la e amá-la. Já com o Livro Branco é de poesia que se trata, ainda que escrita em prosa. Mas e também hermético, gelado, um pouco amargo, escapa-se entre os dedos como água que corre. A princípio achei que era uma diferença cultural, que ela transporta na sua voz o Oriente e que o meu coração sabe ouvir melhor as vozes do Ocidente ou de África. Mas vendo bem, não é isso, ou pelo menos não é apenas isso, é mesmo a sua singularidade. 

Talvez a sua estranheza se chame originalidade e ela mereça mesmo este prémio, considero que sim.

~CC~


19 comentários:

  1. Por ouvir falar deles, não me seduz ler qualquer dos livros de Han Kang. Também não li o Ensaio sobre a cegueira. Por razões idênticas às suas, CC; e mais uma ou outra. Perderei por não o fazer, é uma opção. Mas tendo tanto leitor, menos um não fará diferença e tenho para mim que me poupo.
    Pois, o mal pode ser nosso, e quem sou para avaliar se não haveria gente mais capaz. Certa vez tive curiosidade e comprei um livro de dois autores premiados com o nobel. Por não ter apreciado, parei por ali.
    Que tenha um bom fim de semana

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    1. Eu sou muito curiosa:) Nestas coisas claro, outras passam-me completamente ao lado. Mas percebo-a Bea. Um bom fim de semana

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    2. A minha curiosidade vai só até certo ponto e depois pára. Afinal, shame on me, tenho à cabeceira um livro de Han Kang, de nome Actos Humanos. Ofereceram-mo no aniversário. Dei-lhe uma chance até à página 144. Fica a correcção.

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    3. 144?! Até leu muito...Actos humanos não li, mas tenho ideia que há um filme...e que eu vi...mas posso estar enganada.

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  2. Apesar de tudo... tenho curiosidade.
    Um abraço.

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    1. Sim, eu também tinha muita e por isso li...e não me arrependo. Se não amei, também não "desamei". Um abraço

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  3. Teresa Palmira HOFFBAUER12 de outubro de 2024 às 20:11

    Os livros da vencedora do Prémio Nobel de Literatura 2024 são uma união perfeita do visceral e do surreal. „O ensaio sobre a cegueira“ do nosso Nobel até é suave. Li o livro, vi a peça de teatro e vi o filme. Provavelmente, a minha sensibilidade é muitíssimo resistente.

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    1. Mas leu e gostou? Quanto ao Saramago, achei violento sim, também vi o filme que curiosamente não me tocou tanto como o livro. Mas não uso um medidor de sensibilidades:)

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  4. O Jon Fosse, que ganhou no ano passado, vale muito mais a pena de se ler e conhecer.

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    1. Onde andava eu?! Creio que sei, arredada de tudo e nem dei por ele. Obrigada Diogo, deco começar por qual?

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    2. Teresa Palmira HOFFBAUER13 de outubro de 2024 às 00:46

      Jon Fosse, que cresceu no isolamento da costa oeste norueguesa com vista para os fiordes, é conhecido pelos mundos místicos, às vezes sombrios, que ele cria e que revelam o seu charme especial através da sua linguagem melodiosa. Como nos romances sobre o pintor Asle.

      Desculpem a minha intromissão, mas não resisto de falar de um dos melhores escritores europeus. Aceito a decisão da Academia Sueca deste ano, mas os seus livros da coreano do sul causam insónias.

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    3. Não faço ideia... O primeiro que me conquistou foi Trilogia, mas eu sou novo no universo Fosse.

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    4. Já vi, é mesmo a obra mais conhecida. Talvez um dia...grata pela sugestão.

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  5. Quanto à Vegetariana disse praticamente o que senti também, pelo que bem poderia enveredar por fazer mais algumas recensões na sua rua, que é coisa muito rara, embora a gente divirja em muito, sabe sempre bem encontrar de vez em quando algumas cumplicidades.
    Gostei bastante do Ensaio sobre a cegueira onde apreciei a capacidade imaginativa de Saramago aliada à habitual qualidade literária. Depois do Levantado do chão foi o que mais apreciei. Mas como sabe não há nada mais subjetivo que o gosto.

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    1. Divergimos?! Se assim o diz, deve ser. Mas fique sabendo que também eu gostei bastante do ensaio sobre a cegueira, não obstante a dificuldade que tive em o ler...e da dita indisposição que me causava. Gostava bastante de ter tempo para a critica literária e cinéfila, sem grandes pretensões que para isso já há muito quem...infelizmente não tenho ainda o tempo necessário.

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  6. Ainda bem CC, era uma pena que a indisposição que lhe causou o Ensaio a impedisse de apreciar a obra.
    Compreendo, por vezes acontece, como este fado do Camané, que não é bom para si (nem para mim), no entanto não posso deixar de o considerar belo.
    Uma boa noite.

    https://youtu.be/J67Sahp52WE?si=0m6GksVjjrnZsIkF

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    1. Gosto do Camané, ele e a Cristina Branco são os que mais aprecio, já que o fado não é propriamente a minha praia. Obrigada!

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  7. Confesso que me surpreendeu saber que o Prémio Nobel da Literatura tinha sido atribuído a Han Kang. Li "Lições de Grego" e não gostei.
    De Saramago, embora reconheça a dificuldade, gosto muito. Jon Fosse ainda desconheço mas, por norma, gosto de escritores nórdicos.
    Um abraço CC,
    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra...pelo nome eu teria comprado...provavelmente ao engano:)
      Um abraço

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