A resiliência não é a arte de curar as feridas mas de saber viver com elas. Mesmo sabendo que estamos curados dessa dor, de vez em quando a ferida parece querer abrir, é apenas a nossa sabedoria arduamente construída sobre o curativo que é mais indicado para nós aquilo que nos pode ajudar sempre. Os mais fortes sabem actuar como analistas de si próprios ou fazem-no com a ajuda dos amigos ou do amor, os mais frágeis raramente conseguem fazê-lo assim e precisam de apoio terapêutico.
Estas raparigas americanas raptadas e mantidas em cativeiro nunca mais irão esquecer porque a dor nunca se esquece, os que esquecem são apenas o que nunca souberam de verdade o que é o desamparo. No entanto, se calhar elas quererão mais do que ninguém viver, recuperar, reconstruir e como tal serão as rochas, com sorte e vantagem o abrigo de alguém (uma já é mãe).
A resiliência é uma tecelagem, é forte no modo como se entrelaçam os panos, mas está sempre inacabada e pode romper-se. Os que sabem o que é a dor têm a enorme vantagem de compreender muito bem todos os que a sentiram. O sentimento mais forte com que elas terão que lutar não é a raiva contra o agressor mas sim contra o mundo que não as soube proteger. De certa forma a família inclui-se nesse mundo por melhor que ela seja e por menos culpa que tenha tido.
Longe de mim ter tido experiência tão dolorosa e no entanto sei tão bem o que é esse desamparo, esse nos sentirmos sós no mundo e parecer não haver ninguém que se possa comprometer connosco, cuidar de nós, amar-nos de forma total e incondicional (se não nos aconteceu em crianças com a nossa mãe ou outro adulto, é natural que o busquemos ainda mais sofregamente que os outros). Uma espécie de orfandade forjada que é muito primordial, um veneno capaz de nos fazer o pior. Nessas alturas há que fazer uma coisa importante: fechar os olhos, tentar respirar o sol, pensar que somos capazes, oh se somos!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Passagens