Acordar com um peso no peito e sacudi-lo e sacudi-lo, para vê-lo regressar de mansinho, sorrateiro, à medida que a tarde descia rumo à noite. Os pesos no peito são coisas estranhas sem nome e de destinatários nebulosos. Pode ser por alguém, por nós mesmos, pelo cinzento que nos querem colocar à janela. São sensações imprecisas de que alguma coisa correrá mal. Sinais dessa coisa que não existe chamada destino. Como é que uma coisa que não existe pode ser tão incomodativa?! Quando eu era muito jovem sonharam-me um futuro de ler destinos mas fugi dessa sina, antevendo o quanto ele podia ser infernal, se é que podia ser verdadeiro.
O telefonema imediato e ainda de manhã para a pessoa mais velha da família. Não atendeu. Nova tentativa e consegui falar-lhe, oferecer-lhe boleia de regresso à sua casa. Não quis, que se arranjava sozinha. Aceitei, não devemos infantilizar os mais velhos.
Uma sombra de mim e das minhas capacidades na apresentação da tarde, uma tristeza de me saber assim tão vulnerável a ponto de não fazer as coisas bem, como sou assombrada pelas memórias de tantas coisas más, estupidamente ligada ao passado. Vou sempre à luta a pensar que tenho uma capa e uma espada mas percebo que vou à luta sem nada, de corpo feito. E não há ninguém para desgostar mais de mim do que eu própria.
Depois à noite a confirmação do peso no peito. As sacudidelas nocturnas mais difíceis quando a dor já não é a nossa mas a de alguém mais velho. Confiante, no entanto, que também ela tem uma capa e uma espada imaginárias para ir à luta ou que ainda aguenta o embate na falta das armas.
~CC~
Todos a temos, a minha é a águia. lugar: peito e mente. nome prosaico: angústia.
ResponderEliminaré, sem dúvida, o pior porque é uma dor difusa que assombra de forma inexplicável mas pesada tudo em que tocamos. como tudo, passa. espero que te passe rápido e não estás sozinha nisso.
Obrigada:)
ResponderEliminar~CC~