Não, esta não é uma conversa sobre os piropos. Mesmo sem participar em redes sociais já cá chegaram os ecos da discussão. Gosto muito deste texto e quando achamos que alguém diz bem o que pensamos, escusamos de repetir.
Esta é uma conversa sobre os sistemas de saúde público e privado, se é que é possível falar deles assim. A maior parte das pessoas que conheço e nas quais me incluo defendem que temos um bom sistema público de saúde mas sempre que podemos recorremos ao privado. É contraditório mas explica-se. Se estivermos numa situação urgente recorremos ao hospital público porque sabemos que em situação de emergência estão lá os médicos mais experientes e a sua própria experiência acumulada de anos de tratamento dessas situações. Há normalmente equipamentos bons nos grandes hospitais públicos. Nessas situações pouco nos importa a decoração, as batinhas lindas do pessoal ou o ramo de flores naturais na mesa do atendimento.
Se estivermos doentes e soubermos que é situação prolongada ou a exigir uma intervenção operatória, escolhemos um privado, preferencialmente se tivermos um seguro de saúde. Porquê?
No privado podemos escolher um médico e ele quase de certeza irá tratar-nos pelo nosso nome. Se necessitarmos de uma intervenção eles são capazes de a agendar para um prazo muito razoável (com dinheiro à vista é claro). É tudo mais simples e menos burocrático, embora os tempos de espera tenham aumentado muito. Quase sempre nos explicam o que há a fazer. No entanto, não me pareceram fiáveis os médicos do atendimento permanente ou das urgências, quase sempre estrangeiros sem qualquer capacidade de comunicação com o doente. Aí é a despachar, talvez porque não haja grande coisa a ganhar.
Pergunto se as coisas boas do privado não seriam possíveis no sistema público. Estou convencida que sim. A primeira coisa seria mudar o paradigma, deixar de tratar os utentes como parasitas do Estado, parece que estamos lá porque nos fazem um favor, não porque temos esse direito. Não somos tratados como sujeitos e por isso é que não podemos escolher nada, escolhem tudo por nós. O médico só pode ser aquele, o medicamento é aquele e mais nada, a operação faz-se daquele modo e não se diz que há outras opções. Uma vez numa urgência deram-me duas potentes injecções de cortisona sem me perguntar nada e um medicamente potente para a dor, também injectável. Não me deram qualquer opção, mandaram o enfermeiro aplicar. Chegamos lá e transformam-nos num corpo inerte, sem vontade própria. Uma vez na consulta do viajante ia avisada para perguntar pela vacina contra a cólera. Perguntei e ele explicou-me que era muito cara e não tinha comparticipação. Eu queria tomar e tomei, paguei-a. Estou convencida que foi um salva vidas para mim uma vez que estive muito doente em Angola e os sintomas eram muito semelhantes aos da doença. Nenhum dos meus colegas que foi ao país em missão idêntica o perguntou, nenhum a tomou.
Pergunto se as coisas boas do privado não seriam possíveis no sistema público. Estou convencida que sim. A primeira coisa seria mudar o paradigma, deixar de tratar os utentes como parasitas do Estado, parece que estamos lá porque nos fazem um favor, não porque temos esse direito. Não somos tratados como sujeitos e por isso é que não podemos escolher nada, escolhem tudo por nós. O médico só pode ser aquele, o medicamento é aquele e mais nada, a operação faz-se daquele modo e não se diz que há outras opções. Uma vez numa urgência deram-me duas potentes injecções de cortisona sem me perguntar nada e um medicamente potente para a dor, também injectável. Não me deram qualquer opção, mandaram o enfermeiro aplicar. Chegamos lá e transformam-nos num corpo inerte, sem vontade própria. Uma vez na consulta do viajante ia avisada para perguntar pela vacina contra a cólera. Perguntei e ele explicou-me que era muito cara e não tinha comparticipação. Eu queria tomar e tomei, paguei-a. Estou convencida que foi um salva vidas para mim uma vez que estive muito doente em Angola e os sintomas eram muito semelhantes aos da doença. Nenhum dos meus colegas que foi ao país em missão idêntica o perguntou, nenhum a tomou.
Se o paradigma não muda é porque é bom desinvestir da melhoria do público, obviamente que se sabe porquê.
~CC~
Tudo depende do profissionalismo de quem nos atende. Tive más experiências no público, mas talvez tenham sido mais as boas. Uma das piores que tive foi no privado, com um médico ortopedista, que se fez pagar bem em duas consultas de 5 minutos cada, com telefonemas pelo meio. O problema acabou por resolver-se com a fisiatra e com a fisioterapeuta, ambas com comparticipação.
ResponderEliminarAbraço. :)