Entro no restaurante da senhora de bigode que assa o peixe e cumprimentam-nos, ela conhece-nos e a empregada também, pergunto-lhe se correu bem a viagem à terra e exprimo gosto por a ver de volta.Vou ao cinema e à saída dizem-nos até à próxima. Passo pela loja dos telemóveis e o miúdo que atende pergunta-me se estou bem. No self-service vegetariano há prendinhas para os clientes no aniversário e recebo uma. Amanhã tenho uma reunião lanche almoço no moinho de maré, conheci a gestora há menos de um ano mas já podemos reunir assim, em clima informal na paisagem de estuário. Há qualquer coisa aqui, alguns lugares são capazes de nos fazer isto e outros não.
Nunca fui de lugar nenhum, nunca tive aldeia, uma terra. Sentir-me de algum lugar é uma coisa nova para mim e sinto por isso um gosto que grande parte das pessoas não deve sentir, nem perceber. E ao mesmo tempo que sinto a paz que este lugar me deu nestes últimos anos, atormento-me com a possibilidade de tudo se poder desmoronar de um momento para o outro. Olho para a minha escola e sinto que ela pode ter o destino das estações de comboio que vemos por aí mortas na paisagem. Sim, as escolas também podem fechar, morrer. Deixar este bairro-cidade será mais difícil do que foi deixar outros onde simplesmente morei. Lutaria por tudo isto com alma mas esta luta não existirá sem colectivo e o colectivo tarda.
~CC~
Sem comentários:
Enviar um comentário
Passagens