sábado, 26 de abril de 2014

Vermelho na écharpe verde água



Passei estes dois dias num congresso dito internacional mas na verdade ibero-americano-brasileiro, só se falou castelhano, português e português com açúcar. Uma viagem ao turismo e ao desenvolvimento local, coisas que interessam a uma pessoa como eu, que tem o defeito de se interessar por quase tudo.

 Parece estranho que alguém resolva festejar 40 anos do 25 de Abril desta maneira, tanto eles que o marcaram para esta data, como eu, que me deixei ir na conversa, mas na verdade a festa só esteve no horizonte. 

O mais singular foi o espaço do congresso, uma quinta ribatejana, traços claros de uma aristocracia rural que vive em torno do cavalo lusitano, muito mais do que um simples cartão turístico, de facto a vida para quem neles monta e para quem deles cuida, o usufruto e o cuidado como traços distintivos de classe social. Dantes eu chamava-lhes as tias rurais mas depois deste congresso percebi melhor a profundidade do fenómeno, o culto do touro e do cavalo como mais distintivo de classe do que ter um ferrari ou frequentar os restaurantes do Guincho. São outros modos de se dizer quem se é. Tudo parece ser mais sério e sentido do que em Cascais, considerando Cascais o expoente das tias (estou longe de saber se o é realmente).

Nas ruas nem sombra de festa, ninguém com um cravo posto na lapela, nem um palco na rua, apenas a quietude do feriado, os restaurantes fechados, o café central cheio. Na quinta, alguém que conheço resolveu colocar cravos no arranjo floral perante a indiferença da organização, a mesma pessoa que me deu um para colocar na minha écharpe verde água, ficou muito bem e andei assim todo o dia. Faltou-se sempre alguma coisa, finalmente à noite fui ver uns miúdos a fazer teatro e a peça evocava remotamente o fascismo, fazia-o bem, misturando alguma modernidade e o quotidiano dos adolescentes. Mesmo assim soube a pouco, mas se calhar em qualquer lado me ia saber a pouco, porque nos falta algo para que esta festa se possa sentir com a alegria desejada. E este "algo" não é fácil de dizer o que é.

~CC~




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