O tempo corre veloz contra mim, digo que é contra por me roubar quase tudo o que é lazer, possibilidade de vir aqui, de escrever, quase de respirar.
Depois olho melhor e vejo que ele corre assim porque eu o fiz correr, presa da ideia de que consigo aumentar consideravelmente o número de horas de um dia. Podia ser pelo dinheiro porque tanto preciso dele. Mas parte do que faço não tem remuneração alguma ou tem baixa remuneração. Deve haver uma crença qualquer que não consigo expressar com clareza, muito subtilmente vestígios da adolescência de querer mudar o mundo, hoje redimensionado para uma pequenina marca, um vestígio, um papagaio a cair no cimo de uma serra.
Como me senti tão mal no Verão e agora me sinto melhor e sinto-me melhor no auge de tanto stress e trabalho, também receio ter-me viciado nesta louca vida, nesta adrenalina de esforço, neste adormecer de exaustão. Só ter tanto gosto por um jantar com uma amiga, por um cinema tirado a ferros no fim de semana, por um passeio na praia, me faz ter esperança que afinal isto não é vício, mesmo que parece um círculo vicioso entre congressos, formação contínua, organização de seminários, reuniões da associação, aulas e mais aulas. Gosto muito de todas estas coisas mas a minha vida é um excesso de coisas. Ainda há esperança nos meus pensamentos fugazmente poéticos sobre este frio que chegou em Novembro, nos minutos da manhã em que fico a olhar as nuvens reflectidas no espelho do meu quarto ou quando simplesmente penso no sabor de um beijo.
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