quinta-feira, 9 de julho de 2015

Procuro um lugar



Voltei ao meu cinema com tanta vontade, quase saudade.

Detenho-me na palavra meu e saudade.

Abre-se todo um território em crescem raízes, a mim, que pouco as tenho. Sempre me imaginei como aquela pessoa que parte para qualquer lugar com uma mala com meia dúzia de coisas. Durante os anos em que me chamaram retornada, nunca consegui perceber como é que eu retornava a um lugar onde não tinha nascido. Quando ouvi falar dos sem terra no Brasil sabia que entre mim e eles habitava a distância mas também a proximidade de alguém que não tem um chão e sonha tê-lo.

Sim, a saudade nasce de um laço, alguma coisa forte que temos com alguém, alguma coisa. O melhor da saudade é que não se sacia embora digam que sim, quando estamos a ter o que desejamos não ficamos sem o desejo, voltaremos a desejar, desejamos naquele momento,

Voltei a conduzir o meu carro, é tão leve, tão pequenino, tão meu. E no entanto, desconheço-me na frase anterior, nunca liguei nenhuma a coisas. Estou a mudar, sem dúvida, fui mudando sem dar por isso.

Quando tenho um bocadinho de tempo pesquiso casas para alugar ao ano no alentejo, sonho com uma mesa debaixo de uma árvore, muitos vasos com sardinheiras, uma cadeira de baloiço. Este sonho já quase prevalece sobre o meu sonho mais recorrente: viajar, conhecer o mundo (talvez também porque o mundo se tornou demasiado hostil).

A minha casa, uma coisa pequenina e sem muita graça. Mas sinto-a minha. Estou a envelhecer, isso é um facto. Procuro um lugar, um lugar que seja meu, parece que muitos animais fazem isso quando querem morrer, não é coisa que eu queira, mas quero encostar-me, repousar.

~CC~








1 comentário:

  1. Ontem, fui com uns amigos ao Alentejo. A vontade que tive de ficar por lá mais tempo!
    Essa ideia de uma casa no Alentejo, com uma mesa debaixo de uma árvore e com sardinheiras parece-me uma ideia de felicidade.

    Um abraço e votos de bom fim-de-semana :)

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