Essas coisas, a vida.
De vez em quando chegam palavras que cortam a sensação de que metade do que faço é pó, nada ou quase nada. Um estudante escreve sobre uma coisa que descobriu na aula e lhe mudou o rumo, outra chora no meu gabinete, um professor escreve a dizer-me bem de uma reunião que achei que correu mal, abraço uma aluna que tem medo de gatos numa visita ao campo e levo-a nesse abraço sem qualquer problema em relação aos nossos estatutos, emociono-me com as instituições que vieram numa manhã como esta simplesmente para dizer que acolherão os nossos estudantes em troco de nada. É o relâmpago que ilumina por breves momentos a chuva forte. É da pequena luz que me alimento. Não impede o cansaço, alguma saturação, mas ajuda.
De vez em quando chegam amigos que pensava que o tempo tinha enterrado, a par de outros novos que chegaram sem que desse por isso, sem que fizesse por isso. Durante semanas houve jantares ou almoços, gente à roda de uma mesa a celebrar a vida. Comi demais, bebi um pouquinho, senti-me quase sempre apanhada por estas festas que não pensei nem concebi e que se impuseram naturalmente nos dias.
E por dentro dos dias agitados, insuportavelmente cheios, lembro-me às vezes de ti, de uma carícia tua, um beijo, um abraço mais demorado. Chega com isso uma saudade que não dói, antes aligeira os dias até te ver. Às vezes chega também um momento de dúvida - será que me ama, que pensa em mim, que me quer mesmo?- como se fosse um pequeno ciclone que me agita e que depois se esfuma.
Uma coisa é certa; estou no grupo de risco. Explico: houve um enfermeiro que fez um estudo com doentes terminais perguntando-lhes o que mais lamentavam antes de morrer. Em 2º lugar vinha: ter trabalhado demais.
Tenho absoluta consciência da necessidade de desacelerar mas para cumprir o que há a fazer era preciso que outros acelerassem mais um pouco. E há ainda o maldito dinheiro.
~CC~
É preciso, de facto, desacelerar...também sinto isso cada vez mais, mas cada vez menos sei como.
ResponderEliminarBoa semana, CC. Abraço