segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Eterna devedora e sempre em falta



Todos os dias me pedem coisas. O telefone toca ou chega um mail. São em geral convites mas também têm às vezes um carácter impositivo, são coisas que já devia ter feito ou para as quais me atrasei. A pressão é tanta que nem acho graça a coisas que devia agradecer, como um pedido para gravar um programa educativo em torno de uma boa experiência de trabalho. Gravei-o quase um ano depois do pedido ter sido feito e o mais grave é que nunca o vi. 

Devo quotas a pelo menos duas associações, a uma delas que me escreve com regularidade, na qual nunca me inscrevi oficialmente. Nunca respondi a um mail do sindicato e nunca votei em nenhumas eleições deles. Não respondi a tempo ao meu centro de investigação e arrisco, com razão que me peçam para sair, o mais grave é que não sei se me importo realmente com isso. Petições são muitas e nunca assinei nenhuma.  Nos dias bons acho graça e fico bem disposta, sinto que se lembram de mim, mesmo com a escolha que fiz de morar numa cidade periférica, de não viver num dos nossos grandes centros urbanos (acho que são só mesmo Lisboa e Porto). Nos dias maus, apetece-me ser do Norte e saber dizer asneiras como quem bebe água. Para além do mais, grande parte destas coisas não é remunerada e às vezes envolve custos, hoje chegou um mail a convidar-me para um focus group para avaliação de uns materiais pedagógicos, merecem-me toda a credibilidade mas ir Lisboa tem custos. Às vezes rio-me com certos convites, o último foi para ser júri num concurso de golfinhos para embelezar uma das praças da cidade, fiquei tão espantada que nem sabia o que dizer, mas está certo, eu gosto muito de golfinhos. E é a minha cidade, como dizem os brasileiros, valeu!

Sou eternamente devedora a alguém e estou em falta de certeza, é esse o sentimento com o qual vivo. Fico embevecida a contemplar a vida dos reformados, por exemplo, no filme 45 years aquele casal tem tempo para tudo. Salva-me a minha filha a ralhar: Ó mãe, então tu querias viver naquela pasmaceira?!

~CC~










1 comentário:

  1. Todas temos esse sentimento de não conseguirmos fazer tudo, atempadamente :)

    Digo asneiras, sou orgulhosamente do Norte e olha alivia e muito :))

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