Na minha adolescência, vivida alguns anos com amigos de extrema esquerda, imersa num grupo de teatro que misturava grande qualidade com mensagem política clara nessa mesma linha, dizia-se com frequência: os americanos são estúpidos. Também acreditava nisso na altura. Mas havia os espirituais negros, a luta contra a escravatura, a revolução americana (é tão bonita a declaração da independência), o jazz. Gosto de ver o pauzinho na engrenagem.
Com a vitória de Donald Trump essa frase (os americanos são estúpidos), dita de modo mais claro ou mais refinado, tem surgido com frequência. É tão fácil julgar um povo, todo ele como se nessa amálgama de gente não houvesse mais heterogeneidade do que homogeneidade. Que dizer dos portugueses que aguentaram 50 anos de fascismo? Que dizer dos italianos que escolheram Berlusconi e o aguentaram por mais do que um mandato (não era tão ou mais misógino?) E não falo já das manchas negras que o futuro pode trazer, mas claramente do que o passado recente nos trouxe.
Os americanos são uma pluralidade de gente, estados claramente diversos, realidades distintas. Votaram por Obama para dois mandatos seguidos, se esquecermos que o fizeram, estaremos a desacreditar as pessoas que terão voz para lutarem lá dentro, para se oporem, para protestarem. O meu ADN é claro/escuro, mas sei que a luta está em puxar pelo claro, se a esperança morre, morremos com ela. E os nossos filhos?
~CC~
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