segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

De olhos presos no tecto



Já não tenho lágrimas para chorar a tua tristeza, esta noite queria deitá-las e não conseguia, deixava ficar os olhos abertos presos no tecto do quarto e nesse branco passavam imagens das nossas vidas juntas. Foram muitas as vezes que te vi debruçada no negro dos dias mas nos últimos anos querias mesmo pendurar-te no sol. Depois chegou isto, este bicho ruim que te visitou primeiro e de forma mais grave. Via imagens no branco do tecto, a tua voz tão certinha a cantar aquele sorriso, nós nos anos 80, já tão adultas, ainda tão adolescentes.

Já não tenho lágrimas para chorar a forma como as nossas vidas se desagregam, como sobram pedaços que não sei colar. É uma tristeza que se cola ao corpo e faz com que o meu doa como se fosse uma parte do teu. Não poderei dizer-te estas coisas, nem estas, nem outras. Viajas para lugares tão longe, a minha voz já não chega lá, deve ser isto a que se chama impotência. Ainda assim eu sei, uma amiga é um calor que fica para sempre.

~CC~



5 comentários:

  1. Toda a vez que saio daqui vou com vontade de lhe dar um abraço, CC.
    Hoje verbalizo-o: um abraço. Apertado.

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  2. Como te compreendo, CFF.

    (estou a passar por um afastamento que não foi escolha minha e não pensei que fizesse sofrer tanto, como se me fossem arrancando pedaços, todos os dias...)

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  3. Oh Susana, já cá o tenho, a esse abraço apertado. Vai também um para si.
    Laura, acho que há amigos que nos são tão ou mais próximos que a nossa família, fizeram-nos companhia por uma vida...é mesmo difícil.
    ~CC~

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  4. Magnífico, CCF!Gosto sempre de a ler!
    Abraço e toda a Coragem!
    AL

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  5. António, obrigada. Também já espreitei o seu novo espaço e gostei.
    ~CC~

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