Fico espantada comigo própria e com a forma como mudei a minha exigência, quer para comigo, quer para com os outros. Dizem-nos que ter a fasquia muito alta é positivo mas a mim sempre me trouxe grande insatisfação. Foram raras as vezes que apreciei em pleno um congresso, saí contente de uma reunião, realizada de uma aula. Alguma coisa estava sempre em falta: em rigor, em qualidade, em organização, em feedback, na avaliação. Muitas vezes nos outros, mas também em mim e comigo. É verdade que durante muito tempo isso foi o motor para me procurar superar e incentivar os outros a que se superassem. Mas hoje sinto que cheguei ao fim desse caminho, que já não é assim, que agora valorizo outras coisas.
Depois destes três dias de congresso sinto-me bem, realizada e feliz. E não é que este tenha sido melhor do que os outros em termos de qualidade, possuiu exactamente os mesmos defeitos, os mesmos problemas, as insuficiências conhecidas em termos de contributos para a comunidade de saberes e para os profissionais ao qual se destinava. Poderia dizer que fazer parte da organização do princípio ao fim também muda a perspectiva das coisas, por dentro as falhas são muito mais compreensíveis. Mas não é só isso, não é bem isso. É mais o centro onde se foca a nossa atenção. E no meu caso ela está nos laços, na rede que estas coisas permitem construir. Está em cada momento informal em que rimos, dançamos e nos abraçamos, naqueles minutos em que nos esquecemos que uns éramos professores, outros alunos, uns professores doutores e outros profissionais acabadinhos de formar, na forma como despimos pergaminhos, estatutos, papéis. Nos abraços dados a quem já não via há tanto tempo. No coro de velhotes alentejanos que veio partilhar connosco o jantar antes de cantar para nós e connosco, na moça do acordeão que nos pôs a dançar, no espanto que foi ver os alunos a fazer pequenas peças de teatro, em ver que não estão lá só os mais afoitos mas também os mais reservados, os que mal acabaram de chegar. Dizem-me que me canso e canso é certo. Dizem que não devo, não posso. Mas este já não é o mesmo cansaço que era, um cansaço tantas vezes recheado de desgosto do mundo, este é agora um cansaço feliz.
~CC~
O perfeccionismo pode levar-nos à superação mas também nos retira prazer de disfrutar. Aprendi isso este fim-de-semana também ams de outra forma.
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