Tenho estado ausente da minha própria vida. Vi os dias passarem de chuvosos a solarengos, as pessoas a planearem as suas pontes contando com os feriados, os relatos das suas mini-férias, senti a ausência maior de estudantes nas salas, os cafés mais vazios. Imaginei como seriam os passeios, os espectáculos, os primeiros dias de praia. Ouvi-o dizer-me onde e com quem tinha ido ouvir música, beber um copo, dar um passeio. Senti que a dor que aquilo me causava era inútil, não valia a pena invejá-lo nem querer-lhe mal por não poder ir com ele, por não estar comigo. Tive que trabalhar em mim todos esses ódios pequeninos que nascem da inveja do que os outros têm e nós não podemos ter. Deitei-os fora porque me faziam pior ainda.
Não comprei nem li os jornais, não fui ao meu cinema, vi um único espectáculo para não sufocar e estive amiúde sozinha em casa enfiada no computador e nos papeis. Senti o corpo a cansar-se, as dores no ombro e no braço direito de tanto usar o rato, a irritação a provocar estragos nas minhas células, as noites a ficarem difíceis. Vi a família vir e ir, desejando que ficasse e ao mesmo tempo que fosse.
Estive não só ausente das vossas vidas mas também da minha vida. E não foi o cansaço bom que decorre do trabalho bom, este foi frequentemente um cansaço mau que decorreu de um trabalho moroso e chato, imaginem que tinham por obrigação demonstrar a alguém tudo o que tinham feito em cerca de 10 anos de trabalho com todas, mas todas as provas documentais. Logo eu que há uns anos decidi que não mudaria mais de emprego para não ter que apresentar currículo nem provar nada a ninguém. Não sei explicar melhor, apenas dizer que esse tempo já passou.
Hei-de regressar lentamente à minha vida mas sei que não recuperarei Abril de 2018, esse mês ficará perdido. Com sorte e algum esforço sentirei um bocadinho de Maio, ainda que tenha que construir diques para salvar, já não peço os meus dias, mas as minhas noites.
~CC~