terça-feira, 29 de maio de 2018

Eutánasia




IRLANDA -  1

PORTUGAL - 0


Espero que em breve voltemos a jogo e que ambos ganhemos.


~CC~

domingo, 27 de maio de 2018

Casa



O cansaço desfez-se naquela noite de música em que tudo se misturou magicamente, os velhotes do coro alentejano com os miúdos da percussão, a mulher do acordeão que com uma energia contagiante colou todos num abraço, afinal qualquer um deles tinha sido seu vizinho. Acabámos na rua a cantar e estavas a meu lado. A felicidade voltou a espreitar várias vezes no dia seguinte. Gosto tanto quando me acompanhas. A vista do rio é magnífica naquele canto da cidade onde só raramente se pode ir, naquele dia abriram portas e nós lá estivemos, mais uma vez a música.

Casa era o mote do festival de música da cidade de Setúbal este ano.

Casa é o que tenho procurado sempre. Talvez esteja aqui. Talvez esteja nos lugares em que sou feliz. Talvez viva dentro de um beijo. Se calhar não tem tecto, nem paredes.

Prestes a viajar, a primeira vez de avião, depois deste período de doença. Prestes assim a deixar a casa. Com medo, a testar o medo, a lutar contra o medo. Quando estou perto pergunto-me sempre se precisava, é a voz do medo a falar alto, a querer-me quieta. Sei que, contudo, vencê-lo, também me pode deixar feliz.

O bom de ir é aquele desejo de conhecer, a curiosidade, e depois é ainda melhor regressar a casa.

~CC~





terça-feira, 22 de maio de 2018

domingo, 20 de maio de 2018

Fazer-me rir


Por breves momentos estive perto do cristianismo. Por um tempo um pouco mais longo presa de uma teia qualquer de misticismo, daquelas que podem ter  muitos nomes e viajam entre o Siddhartha e o Fernão Capelo Gaivota. Só me sobrou o gosto pelo yoga e o espanto pela beleza da terra. Depois tornei-me racionalista e descrente de quase tudo. Fez-me bem ao sentido crítico, apurou-o. Por fim cheguei ao princípio, ou seja ao humanismo, ainda que considerando o ser humano apenas essa partícula ínfima do infinito, o que se não destrói o humanismo lhe acrescenta algum relativismo. Faz-me bem ter esperança na humanidade, não obstante alguns péssimos exemplos dos dias de hoje.

Isto tudo era só para dizer que não sei de onde me vem a capacidade de perdoar. Não aquela coisa boazinha do perdão instantâneo, da lavagem imediata da mágoa, muito menos o dar a outra face. As coisas demoram tempo. Mas acontecem ao ponto de poder ter saudade de alguém que não foi completamente bom para mim (isto se houver alguém completamente bom). Hoje tive um sonho com alguém assim. E no sonho sentia saudade de algo que aquela pessoa que agora nem sequer chamo amigo fazia muito bem. Como se do tempo tivesse apenas sobrado aquela particularidade lavada de qualquer mágoa. Fazer-me rir, era isso. Saudades de alguém por essa pessoa me fazer rir. Tinha graça, às vezes basta isso para fazer com que alguém se torne especial.  

~CC~

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Contabilidade


Uma hora de comboio para Lisboa, fim de tarde, carruagem cheia.

Duas pessoas liam livros em suporte papel.

Duas pessoas conversavam.

Três pessoas dormitavam.

Todos os outros usavam o telemóvel. Liam coisas ou enviavam mensagens, três telefonavam, alguns nada faziam, tinham-no apenas na mão.

Eu não sei como se pode passar de comboio a ponte sobre o Tejo sem olhar o rio, olhá-lo muito, beber toda aquela beleza. 

Pergunto-me, contudo, se também quereria beber dessa beleza se a visse todos os dias. E sinto-me privilegiada por não ter que ir a um lugar todos os dias. Ainda assim há coisas que gosto de repetir e esta passagem sobre o rio é uma delas.

É tão bom não fazer nada durante uma hora.

~CC~










terça-feira, 15 de maio de 2018

Nostalgia tonta




Saí muito cedo e para um lado diferente daquele para o qual costumo ir na cidade. E encontrei uma fila inusitada que me obrigou a procurar uma justificação para tal. E percebi: era o caminho do liceu (sim, toda a gente ainda o chama assim). Eram os pais que iam levar os filhos. E de repente a minha vida regressou ao tempo em que também eu fazia o mesmo contigo. A nostalgia tomou conta de mim, o que costuma ser raro, nunca vivo no passado e raramente me emociono com ele. Talvez esteja mesmo a envelhecer. Revi-te ali ao meu lado, ensonada, contrariada por teres de te levantar cedo, com qualquer coisa esquecida em casa ou no banco de trás. Nem posso chamar saudade ao que senti, foi mais uma dor fininha de saber que há certas coisas que não voltarão jamais a ser o que foram, que a tua companhia vai ser sempre como é agora, um tempo entre muitos tempos da tua vida. Por certo não voltaremos a viver juntas. E lembrei-me da minha mãe, da agitação que era a vida dela com tantos filhos e netos e de como tudo isso se foi e agora está tão sozinha. Compreendi-a melhor e percebi que só essa compreensão vivida do sentimento do outro pode gerar afecto.

Depois estendi o braço para me retirarem sangue para as análises. E pensei que talvez pudesse deitar uma lágrima como se fosse por aquela dor e não pela outra tão tonta que sentia.

~CC~

domingo, 13 de maio de 2018

Uma aranha por favor



Estava atrás dela na fila, uma senhora respeitável, certamente com mais um dez anos que eu:

- Quero uma aranha, uma joaninha, um trevo e a pérola negra.

Primeiro pensei que ela se tinha equivocado com a loja já que ali não se vendiam animais mas jornais e revistas, depois estranhei as outras categorias que não batiam certo com as primeiras, até perceber do que se tratava, afinal eram nomes de raspadinhas. Tamanha imaginação de quem inventa estas coisas, refinada memória de quem as pratica ou de quem raspadinha atrás de raspadinha se vai viciando.

Olhei para o lixo, estava quase cheio de papéis raspados, por certo a clientela era muita.

Perguntei à senhora da loja se vendia muito. Respondeu que sim, que quanto mais idosas eram as senhoras, mais gostavam daquilo. Fiquei a pensar tantas coisas. Ainda me lembro como uma senhora que conheci numa das aldeias escondidas deste país me dizia: ao fim da tarde menina, um copinho de licor caseiro e lá se vai a solidão. Serão também as raspadinhas um elixir do mesmo género? Ou será mesmo pela possibilidade (remota) do prémio?

O que vive escondido nas aranhas da sorte? 

~CC~


terça-feira, 8 de maio de 2018

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Ausente da minha vida



Tenho estado ausente da minha própria vida. Vi os dias passarem de chuvosos a solarengos, as pessoas a planearem as suas pontes contando com os feriados, os relatos das suas mini-férias, senti a ausência maior de estudantes nas salas, os cafés mais vazios. Imaginei como seriam os passeios, os espectáculos, os primeiros dias de praia. Ouvi-o dizer-me onde e com quem tinha ido ouvir música, beber um copo, dar um passeio. Senti que a dor que aquilo me causava era inútil, não valia a pena invejá-lo nem querer-lhe mal por não poder ir com ele, por não estar comigo. Tive que trabalhar em mim todos esses ódios pequeninos que nascem da inveja do que os outros têm e nós não podemos ter. Deitei-os fora porque me faziam pior ainda.

Não comprei nem li os jornais, não fui ao meu cinema, vi um único espectáculo para não sufocar e estive amiúde sozinha em casa enfiada no computador e nos papeis. Senti o corpo a cansar-se, as dores no ombro e no braço direito de tanto usar o rato, a irritação a provocar estragos nas minhas células, as noites a ficarem difíceis. Vi a família vir e ir, desejando que ficasse e ao mesmo tempo que fosse.

Estive não só ausente das vossas vidas mas também da minha vida. E não foi o cansaço bom que decorre do trabalho bom, este foi frequentemente um cansaço mau que decorreu de um trabalho moroso e chato, imaginem que tinham por obrigação demonstrar a alguém tudo o que tinham feito em cerca de 10 anos de trabalho com todas, mas todas as provas documentais. Logo eu que há uns anos decidi que não mudaria mais de emprego para não ter que apresentar currículo nem provar nada a ninguém. Não sei explicar melhor, apenas dizer que esse tempo já passou.

Hei-de regressar lentamente à minha vida mas sei que não recuperarei Abril de 2018, esse mês ficará perdido. Com sorte e algum esforço sentirei um bocadinho de Maio, ainda que tenha que construir diques para salvar, já não peço os meus dias, mas as minhas noites.

~CC~