Vi o arco-íris num arco completo e pensei se, como eu, terias reparado nele. Se te terias deixado atravessar pelas suas cores tão perfeitas. Se o terias contemplado a sua beleza com os olhos que eu tenho. E lembrei-me dos teus olhos, raramente molhados como julguei vê-los hoje. Quando te comoves julgo amar-te mais, preciso saber-te sensível.
Os homens duros não são os meus homens, por isso preciso de saber se viste o arco-íris, ou se ele te foi indiferente. Preciso saber se a sua beleza te encantou. O amor também é feito destas coisas pequenas, ninharias.
~CC~
queres coisa mais pequena que uma lágrima?
ResponderEliminarUm amor
ResponderEliminarAproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice, in “A Partilha dos Mitos”
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Nunca são as coisas mais simples
Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.
Nuno Júdice
Luís, sim, podemos apaixonar-nos por uma lágrima.
ResponderEliminarIsabel, belíssima poesia, obrigada.
~CC~
acabas a falar em coisas pequenas, ninharias
Eliminarmas pareceu-me óbvio que essas ninharias têm tamanho
e o que me veio à cabeça foi a lágrima, tão pequena, e quem a ache insignificante tem um problema qualquer
Também o vi e sabia que o estavas a ver. E estive nele uns quilómetros de tempo a lembrar-me da intensidade com que às vezes se tece o tempo quase sempre tão escasso.
ResponderEliminarE mais à frente, o sol mais baixo rasgava uma nuvem de tempestade com as cores todas a toda a força. Atravessei a tempestade e viajei no crepúsculo. Para sul. Não se mais longe, se mais perto.
JJS, é bom poder alimentar a certeza, mas a dúvida faz parte. Uma pequena dúvida.
ResponderEliminar~CC~
A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer.
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