domingo, 10 de março de 2019

País de sonhos desfeitos...



Ali, no pulsar daquela casa dentro da pequena aldeia respirei profundamente, deixando-me invadir pelo cheiro das estevas. Lá fora, muito perto, o rio a correr. Uma ideia maravilhosa que não tinha tido êxito, o de tornar aquela aldeia um lugar de acolhimento de visitantes, abrindo as portas das casas, dos pequenos quartos, das cozinhas desarrumadas, do que resta das hortas. Os mais velhos, os guardiões da memória, poderiam enxotar a solidão praticando formas de se fazerem entender e contar coisas.

Tivesse eu mais vidas.

Uma delas poderia gastar ali, a falar com os mais velhos, dizendo-lhes que há modos de lutar contra o medo do estranho. O que é uma aldeia turística sem habitantes? Apenas um casario enfeitado por camadas de tinta.

A casa grande está ali bela mas quase vazia, ela é tudo o que os museus não podem ser, tão ou mais vazia do que quando partiu a sua última habitante. Um dia a autarquia contará os números de visitantes, fará contas ao ordenado do técnico, acrescentará a luz, a água, a manutenção...e mais uma vez algo fechará morrendo no pó dos tempos.

Este é um país de maravilhosos projectos mortos, associações decrépitas, empresas goradas, sonhos desfeitos. Cada vez que uma coisa boa fecha, sinto um aperto no coração. 


~CC~





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