Eram tão iguais que ninguém adivinharia que eram de sexo diferente. Duas gotinhas de água, dois anjos, dois belos diabos.
A mãe já sabia que eram dois, mas havia dúvidas se seriam dois meninos, duas meninas, um menino e uma menina. Para baralhar o mundo como os gémeos gostam de fazer, se um deixava o cabelo crescer, o outro deixava também, se um o cortava, o outro também queria. E havia o pacto de ela nunca usar saias, o que aliás combinava com a sua personalidade, feita de paixão por subir árvores, correr atrás dos animais, atirar pedras para a água e deitar-se na erva a imaginar de que seriam feitas as nuvens. Ele só ia atrás, como se os dois centímetros de altura que tinha a menos, o tornassem refém dela. Mas quando ele começava a desenhar o mundo à sua volta, era ela que se rendia ao seu talento, pasmada de lhe faltar aquele jeito, não obstante serem tão iguais.
Ela esperava sempre pelas férias com o coração ansioso pela liberdade de poder correr nos terrenos da aldeia em que a avó morava. Ele deixava-se ir, tranquilo, pelos caminhos, a tentar reter no olhar o que havia de desenhar e pintar.
Quando a avó os mandou ir ver se havia ovos nos ninhos das galinhas, ele arrepiou-se um pouco, não era coisa que lhe agradasse. Ela puxou-o rápida: vamos, vamos!! Eram cinco maravilhosos ovos, bem grandes. Ela rapidamente propôs que ficassem com eles, não os levassem à avó, podiam escondê-los num sítio, aquecê-los e ver os pintos nascer. Ele só abanou a cabeça em sinal de discórdia. Ela estava zangada: não os levo! E ele, bem firme: isso é que levas!
Como é que dois seres que se amam tanto, com oito anos de idade, se podem zangar assim?
(continua)
~CC~
(oh Susana, mas eu ainda tenho dúvidas se isto é para crianças)