Foi ontem, na biblioteca da Assembleia da República. Nunca tinha entrado na biblioteca e é bastante bonita. Não era uma homenagem à Natália Correia mas o lançamento de uma revista em que ela é a personagem escolhida (Faces de Eva). Acho que ela, que acreditava em Deus e não sei se na vida para além da morte mas acho que foi ela quem enviou a chuva que inundou a tarde. Nunca poderia ter sido uma vulgar tarde de Junho, com sol de Verão e cheiro a sardinha. Foi uma tarde molhada, caótica, com o que resta do cheiro a terra no interior de uma cidade. Tive uma genuína vontade de chorar que consegui conter pois não me apetecia fazê-lo ali, entre tantos estranhos.
A tristeza e a revolta da Natália tornaram-se matéria ainda mais verdadeira e mais humana no interior do táxi. É fácil, falávamos sobre Lisboa. E o condutor contou as histórias, as dele e as de quem se senta naquele banco. As histórias das pessoas que perdem os bens por deverem à banca menos de 80 mil euros que não conseguem pagar e que vêm negadas todas as hipóteses de negociação, assistindo assim a vendas em hasta pública que rapidamente são tomadas por grandes fundos imobiliários previamente avisados. As histórias das pessoas acossadas pelos proprietários das casas que alugam, não poderei esquecer a da velhota que o senhorio deslocou de Alfama para uma casa minúscula em Chelas, dizendo-lhe que era em Lisboa e numa zona muito mais calma.
Natália Correia teria escrito sobre isto poemas de farpas e sangue. E teria cantado, como a ouvi ontem fazer com Amália, quem se não ela não teria medo de cantar a meias com a fadista...
Hei-de requisitar na biblioteca mais próxima o Botequim da Liberdade.
~CC~
Como é que se acredita em Deus, e não na vida para além da morte?
ResponderEliminarGosto da Natália
Obrigado pela partilha CC
Olá CC,
ResponderEliminarNão sabia que ainda editavam a revista Faces de Eva. Tenho duas, do ano 2000, dedicadas à Maria Lamas e à Virginia Woolf; vou tentar encontrar essa pois gosto muito da Natália.
E sim, ela acreditava na vida para além da morte e, segundo o Fernando DaCosta, até era capaz de fazer chover...
Ele conta essa e outras histórias insólitas (da Natália e não só) no livro "Nascido no Estado Novo" (Editorial Notícias,2001).
O Botequim da Liberdade, que a CC refere, também é muito bom.
⚘
Maria
Vejo que tem lágrima fácil CC. Antes de as enxugar há que as soltar. Não nos dão respostas, mas alivia. Tenha um bom fim de semana.
ResponderEliminarMiguel, acho que é possível, a crença em Deus pode ser muito multifacetada:)
ResponderEliminarJoaquim, por acaso não, raramente choro...mas ultimamente tem sido diferente. Bom fds.
Maria, uma mulher espantosa...a revista ainda se publica e cada vez com mais qualidade, novo editor, com mais qualidade.
Abraços 3
~CC~
Fiquei curiosa com a revista. boa semana, CC.
ResponderEliminarLaura, acho que ia gostar desta revista!
ResponderEliminar~CC~