O amor é uma coisa que demora tempo e tem que ser aprendida. O amor dá trabalho, as relações longas são uma prova de fundo, só digna de alguns corredores que aguentam nas subidas, embalam nas descidas e conseguem apanhar o ritmo durante as rectas. As desistências são muitas, também já desisti algumas vezes. E além disso a paixão, as relações breves, têm o seu poder de atracção. Mas desgastam-nos mais, consomem-nos. É claro que há quem prefira. Mas esta prosa é para os outros, para quem quer permanecer.
O amor muda porque nós também mudamos e precisamos de acompanhar as nossas e as mudanças do outro. Nesse caminho, é muito fácil que nos percamos. É muito fácil que tudo se torne um lago de águas paradas, uma busca de conforto e segurança, apenas o laço que se tem para impedir a solidão. Nesse caso só se precisa de coragem, desistir da corrida é o melhor, não porque não se é capaz, mas porque a prova não vale a pena, ou já não vale a pena.
O tempo de férias é muitas vezes a prova de fogo. Há tempo, o dia todo com o outro por perto, às vezes longe de casa onde não há os cantos habituais de refúgio, não há como evitar-lhe os olhos, as manias, o que deslumbra e o que irrita. Como tantas mulheres e tantos homens, saí sem intenção de voltar depois de umas férias. E pensei muito sobre isso.
Como justamente potenciar o encontro e não o desencontro, aproveitar o tempo maior, descobrir ainda coisas do outro ou nos descobrirmos a ambos em certos e outros lugares?
E de cada vez que regresso feliz, não isenta de sobressaltos e pequenos momentos infelizes, mas ainda assim mais rica e com histórias vividas a dois, acho que aprendo, vou aprendendo, vamos aprendendo.
~CC~
Se o amor existe não se pensa em partir e não voltar. Simplesmente é pensamento que não ocorre. Nem em férias. Férias são a melhor parte, um tempo de fazer nada e flanar com o outro que se quer bem. Há problemas, claro; chateamo-nos, culpamos, julgamo-nos inocentes e vítimas (com e sem razão). Mas nada disso importa verdadeiramente.
ResponderEliminarOlá Bea, muitas relações acabam e há ainda amor, não é assim tão linear. Quando as coisas correm mal, muitas vezes também nos sentimos perdidos, sem saber se amamos ou não. Há infinitas matizes nas relações. E ao contrário do que pensa, há mesmo muitas uniões que se desfazem depois das férias, parece ilógico eu sei mas há quem não resista ao tempo para se ver verdadeiramente, quando a vida deixa de ser tecida nas teias lógicas do quotidiano. Ainda bem que a Bea nunca experimentou esse desalento.
ResponderEliminar~CC~
Entendo que haja relações que terminem depois de férias, mas porque já ante de partir para elas o amor estava ausente; acho mesmo bastante natural que, nesse caso, sejam um pequeno martírio e desemboquem na separação.
EliminarHá muita razão para ficar e muita para partir. Tudo depende da vida, princípios e prioridades de cada um.
Na mesa ao lado onde estávamos a beber café, ouvimos esta conversa:
ResponderEliminar- O meu casamento de 21 anos chegou ao fim. E hoje, com o distanciamento, já consigo identificar porquê: eu tinha deixado de a mimar.
Enfiámos os olhos dentro da chávena, antes de conseguirmos olhar para alguém que se confessava assim tão cruamente.
Reconhecer onde se falha é sempre um bom começo para se reinventar.
Os casamentos perdem o mimo e, com ele, o brilho.Não sei porquê. Mas é quase sempre assim.
A minha amiga achava que era mais fácil recuperar esse brilho quando se troca de pessoa...mas como conseguem fazer aqueles que se mantêm juntos, será que fingem? Será que aceitam ficar apenas pela amizade, mesmo quando já nada estremece? Esse era o segredo que ela gostava de conhecer e eu lhe ia explicar.
Explicar-lhe que o amor também diminui, muda de forma, não é uma ciência exacta.
Mas explicar-lhe também, que vivemos tempos fluidos. Nada é para durar.
Qualquer um pode ter outros, porque é fácil e a facilidade é uma jovem sedutora. Livrar-se do outro quando quiser é sempre mais fácil, o grande problema é que com o passar do tempo as opções vão diminuindo, até que todos sejam descartados e você esteja sozinha. Mas, talvez não haja tanta diferença, afinal em tempos líquidos ou descartáveis, estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo. É tudo uma questão de opção.
Joaquim, muitos fingem certamente, primeiro que tudo para si próprios. Muitos ficam por ficar, por comodismo, razões económicas ou por não se verem a viver sós. Amizade só parece-me pouco, alguma coisa de pele, de atracção e encanto tem que haver...
ResponderEliminarConheço muitas mulheres que vivem sós mas não estão sozinhas, saem com as amigas e amigos, algumas têm filhos e familiares, não lhes sinto infelicidade alguma, aquela foi a sua opção e gozam em pleno dela. Outras vivem sós mas têm um namorado ou foram tendo namorados e são igualmente felizes, acabei de estar na casa de uma delas uns dias. Conheço menos homens nessa situação. A nossa sociedade é cheia de normas tontas e quadradas, é preciso mudar de agulha.
~CC~
Tem razão, CC. A vida hoje não é feita de uma opção única, há vários caminhos de viver só e outros tantos de companhia. Conheço mulheres bastante satisfeitas com a vida que têm, umas namorando aos bocados mas vivendo essencialmente sós; outras sem namorados e em termos de bem estar sem diferença das anteriores. E conheço as que têm um companheiro do seu lado e sem o qual não imaginam a vida, tudo dividem com ele e são um dois em um do mais emblemático. E conheço as que ficam não por amor, talvez por responsabilidade, agradecimento, comodismo, o que quiser. Perderam o encantamento que houve, é verdade, mas o que é que a vida não leva?! Ao invés do Rui e Carlos Tê, digo que o que nos junta também é o que nos separa.
EliminarMas, seja qual for a solução de cada um, julgo que mau é não vivermos coisa tão absoluta como o amor. E não me refiro apenas a sexo, mas a essa coisa que dura e afronta tudo que vier e que é certeza mais rigorosa que qualquer axioma. Há quem o mantenha, quem o tenha e o perca e quem não chegue a saber o que seja. Os últimos são de lamentar.
Há uma frase, atribuída a Camus, que me diz muito:
EliminarNão ser amado é uma simples pouca sorte. A desgraça é não amar.
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