terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Saudades



Tenho tantas saudades de receber uma carta que não contenha recibos, extractos ou publicidade. Tive a aguda consciência disso no outro dia no teatro, uma peça em que se liam e escreviam belas cartas. Saí de lá com uma carta que era generosamente entregue no fim a todos os espectadores, não consigo deitá-la fora.

Pior, já tenho saudades de receber um mail que não seja uma comunicação relacionada com o trabalho, qualquer coisa que contenha uma ideia, uma música, conte uma história ou tão só uma mensagem.

Por este andar, qualquer dia terei saudades de receber uma mensagem ou um telefonema não executivo, aqui sim na forma positiva do termo. Isto é anacrónico, bem sei, mas não consigo evitar ter nascido no século passado.

~CC~

11 comentários:

  1. Eu cresci no tempo dos telefones, que se me consomem até ao tutano, mas gosto de cartas e de trocar postais. A materialidade do processo (tocar o mesmo objecto que foi tocado pelo remetente) encanta-me.

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    1. Um dia imaginei um Call Center só para ligar às pessoas e saber delas, fazer de conta que realmente alguém se importava com elas. Não sei é quem contrataria tais serviços:)
      ~CC~

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    1. Ah Joaquim, essas então...uma pessoa já não pede tanto. Isso são raridades de pessoas nascidas na primeira metade do século XX:)
      ~CC~

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  3. Vou escrever uma carta:). Porque gosto e preciso de pensar alto que é o que se faz conversando. E há essa coisa que a CC diz, alguém que toca o que eu toquei; mas, mais que isso, alguém que lê as minhas letras e que desejo que entre no meu pensamento como interlocutor, é para ele que escrevo. Bem sei que o alfabeto é coisa universal, mas é usado a meu modo, como quem ajeita flores na jarra. E é isto tão bonito.
    mas é que é isso mesmo, CC, nós pertencemos mais ao século passado; não que estejamos fechados a este, mas formámo-nos no outro. E as marcas existem.
    Não se deita fora uma carta por escrever, é pecado mortal. Guarda-se. Um dia, quem sabe, há-de enviar-se a alguém que a precise ou apenas nos entra o apetite de lançar letras ao papel.
    Eu que detesto telefones, digo o mesmo; a amiga que me ligava parece ter deixado quase de o fazer, e não é que fiquei com saudade àquele aparelho palerma?! Coisas.
    Há dias quebrou-se o enguiço dos mails, recebi um tão bonito. Um bocadinho triste, uma amizade antiga que, qual aragem benfazeja, rasou a poeira do meu peito e fez ondular o trigo que eu já deslembrava.
    E pronto. Boa noite, CC.
    PS: se a Rua da Índia, 76 tivesse anexo o nome da cidade/vila/lugar, quem sabe algum leitor deste post arriscava uma carta:)...

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    1. Marcas Bea, é mesmo isso, não obstante gostar de muitas coisas deste século. Já tenho recebido e trocado mails com pessoas do blogue, enviam-me o mail delas e eu escrevo (pedem para não tornar público o comentário com o seu endereço e eu não o faço). Até já recebi um livro lindo de poemas da Isabel do "Nascer na Praia" e a Ana do de "Dentro para fora" dá-me sempre os parabéns e escreve pelo Natal, uma pessoa muito querida. Mas ganhei algum receio da exposição pública, durante anos recebi telefonemas de um desconhecido que se queria encontrar comigo, dizia que por motivos profissionais, mas na verdade era meio louco e senti-me muitas vezes perseguida (tinha visto o meu contacto num local que nunca o devia ter tornado público). Nisso, não quero arriscar.
      ~CC~

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    2. Bea, eu acho que a Rua da Índia, 76 era em Angola, mas a ~CC~ confirmará.
      🌹

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    3. Evidentemente:)
      A rua em Luanda em que nasci....
      ~CC~

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  4. Faz bem. Era só uma brincadeira:).

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  5. Durante muito tempo ainda remei contra a maré, enviando postais de aniversário e de Natal; depois desisti, nem em correio azul chegavam a tempo...
    Detesto enviar (e receber) sms standard ; mensagens sim, mas personalizadas.
    Quem sabe um dia não recebe uma carta minha, ~CC~ 🤗

    Beijo.
    🌹

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    1. Maria, quando lhe apetecer escreva um comentário aqui com a indicação de não publicar e envie o seu mail, depois escrevo-lhe e envio-lhe o meu mail, morada, o que quiser...confio em si e pronto, são coisas instintivas:)
      ~CC~

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