Para resistir (2)

Para resistir encomende no comércio local, se levarem a casa tanto melhor, com os mercados fechados os pequenos produtores não têm como escoar a mercadoria. Saiba se há algum restaurante TaKe Away na sua zona, muitos fecharam a porta mas mantêm um serviço desse tipo e podemos ir lá buscar, é que nem para todos o tempo tem dado para experimentar receitas novas e além disso precisamos de ter aquela sensação de ter ido comer fora, de variar as ementas. Deite o mínimo possível de comida fora, tudo se reinventa, há trinta e uma mil coisas que se podem fazer com uma só posta de bacalhau, fazendo-a render para três ou quatro pessoas. 

Se tiver uma varanda e for fds, não hesite em colocar a mesa bonita e usar o espaço, bebendo várias vitaminas, entre elas a famosa D que sempre fez bem a tudo (oh, mas precisamos que a Primavera volte).

~CC~

Para resistir (I)

Para manter a sanidade mental, ver notícias apenas uma vez por dia e nunca, mas nunca em caso algum ler certos jornais ou ligar certos canais de TV tóxicos. Dosear a interacção em todas as redes sociais, não as lendo ou consultando mais do que uma vez por dia. Ligar ou enviar pelo menos semanalmente uma mensagem àqueles de quem gostamos ou que estão a passar por um momento especialmente difícil.

~CC~

Novas flores

Devidamente autorizada, mudei de local de quarentena e ganhei tanto, mas tanto com isso, até novas flores

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~CC~

Época balnear?!

Fui muito a medo confesso, espantada por não me terem desmarcado a TAC, afinal é apenas o controle semestral da doença. Mas pensei, se eles, nestas circunstâncias, não desmarcam, como é que eu me atrevo a tal. Se eles não têm medo, porque é que eu hei-de ter? E eles não estão no centro deste combate, nem são propriamente SNS, disse a mim própria, sossegando-me.

E lá fui, vencendo receios, a pensar que o pâncreas, o fígado e outros órgãos são mais ou menos silenciosos quanto a sinais de doença e quando sabemos, já pode ser tarde. Mas não deixei de perguntar. Não estava era à espera da resposta do técnico: Oh minha senhora, se nós desmarcarmos os exames todos vamos passar aqui o Verão, em turnos de 24 horas, e ninguém terá férias. 

Está bem, os pragmáticos tem em geral uma boa dose de optimismo, que haja alguém a pensar na época balnear.

~CC~

Saudades Blogosféricas

A Flor tem chamado incansavelmente pela Palmier, era um blogue com muita piada...e os quadros de um talento enorme! Sem dúvida, precisávamos dela para este momento que atravessamos....

Sabemos que quem se iniciou aqui há cerca de dez anos tem nomes incontornáveis na memória, como a Ana de Amesterdam ou a Isabela do Novo Mundo...foram poucos os que voltaram, a assinalar a Pólo Norte do Quadripolaridades, sempre bem disposta...

A primeira vez que senti saudades de um blogue foi deste, do Fallorca, um ser humano extraordinário, com muito sentido de humor e muita generosidade, que nunca conheci ao vivo, como a maior parte das pessoas que visito quase diariamente. Mas os comentários inteligentes dele acompanharam-me alguns anos. Infelizmente ele já não está connosco.

Mas de quem eu tenho muitas saudades é do Notas de Chá e da Doce Pomba não morreu, blogues atrás dos quais estava a Paula, uma mulher com grande sensibilidade e que sempre me tocou bastante. Tenho-me lembrado muito dela pois apesar de não saber bem o que ela fazia, falava sempre muito dos idosos e de uma forma muito especial. Se algures estiveres por aí Paula, envio-te um abraço com saudade.

~CC~

Das orquídeas e outras flores

Continuando a corrente iniciada pela Luísa, mais um contributo...

Creio na ocupação do mundo pelas rosas.


~CC~

Aumentando o vocabulário...

Duas palavras que entraram para o vocabulário dos estudantes esta semana: síncrona e assíncrona. Sim, tive que explicar a alguns o significado.

~CC~

Abraço

Há quanto tempo não abraças alguém?

Alguns de nós estão barricados com mais uma ou duas pessoas ou até mais. Não deve ser fácil o confinamento colectivo, com ritmos, tarefas, hábitos e desejos diferentes. Como há muito vivo intermitentemente sozinha, esse desafio para mim seria grande, sobretudo se por muito tempo. Creio que de vez em quando se abraçarão uns aos outros e talvez isso os possa salvar, apaziguar.

Mas o confinamento solitário, de um para um, tem também os seus momentos. Às vezes apetece-me um abraço com uma vontade tão forte como quando estamos grávidas e nos dá o desejo absurdo de alguma coisa. É aquela coisa da pele, do calor, do cheiro humano.

~CC~

Pequenos nadas

São passeios curtos, dia sim, dia não, numa pista de ciclismo sem ciclistas e pouca gente a caminhar, é roteiro recente e sem vistas nem grande beleza, serve para este momento em que ando sozinha e a casa está vazia. Para trás ficaram os passeios no campo, mais longos, mais belos, quando tu ainda caminhavas comigo.

Cruzo-me com cinco ou seis pessoas, apressadas, de olhos no chão. Depois disto ainda saberemos dizer bom dia?  Nenhum de nós o disse.

~CC~

E talvez...

Parece que o mundo se divide entre os que estão a adorar a quarentena e veiculam mensagens positivas de mil e uma coisa que se pode fazer em casa (até ficamos a pensar que não querem voltar)

e os que estão a odiá-la, agoniando com a falta de ar e a saudade da vida fora da caixa.

Da mesma forma o mundo gerou grandes pedagogos de massas - sempre a enviar mensagens de tipo evangélico baseadas na palavra "devemos" e "temos", com uns pozinhos de filosofia barata inspiradas nos manuais de auto ajuda. Em oposição,  gerou também grandes cínicos, neste grupo uns prontos a acusar a civilização de ter agora o que merece ou da vingança da natureza sobre o homem, enquanto outros aproveitam qualquer coisa para uma piada, um video meio louco, uma gargalhada sonora, até parece que estão a divertir-se com tudo isto.

Como tantas vezes na vida em que tive que votar, escolher, decidir, enraízar-me, fazer parte...sinto que não estou em nenhum destes grupos. Mas se calhar não estou sozinha. Sou só uma sobrevivente sem grandes lições para dar, estou aqui como tantos outros, a tentar-me manter-me à tona. 

E talvez se eu dançasse...

~CC~

Para a Luísa, celebrando a Primavera...

Ela desafiou https://aesquinadatecla.blogspot.com/2020/03/orquidea.html

Mas eu não tenho!

E começa a Primavera, é também tempo de lançar sementes à terra...de modo que... foi o que aqui se conseguiu arranjar. Que tal uma saladinha daqui a uns meses?!

~CC~

De como vivo

Os dias enrolam-se para mim muito rapidamente uns nos outros. Terça feira foi aquele dia em que saí só de carro para constatar que a minha roupa tinha ficado na engomadoria e que estava fechada, não podia assim recuperá-la. Pensei na falta que me fariam aqueles três pares de calças, dos que mais gosto. E o vestido. Para depois me rir de mim mesma pois certamente nos próximos tempos iria precisar de muito pouca roupa. Pela primeira vez a cidade pareceu-me vazia, já que no último fim de semana as esplanadas ainda estavam consideravelmente cheias de gente a almoçar peixe assado e choco frito. Talvez se despedissem, não quero criticá-los. Criticamos demais o que os outros fazem. Eu já não era capaz de o fazer, por mais que tivesse vontade, havia o alarme cá dentro, o medo já tinha ocupado o seu lugar de protecção.

Pela primeira vez olhando o estuário azul, tão tranquilo, com o sol a bater na água, pareceu-me tudo absurdo e surreal. E pela primeira vez as lágrimas chegaram, ou o desejo delas. Depois lembrei-me, na tentativa de reacção à tristeza de que já tinha vivido momentos muito piores. Lembrei-me ainda que há gente em todo o mundo a sofrer horrores, sem casa, sem conforto, com medo, longe da família. Tentei colocar-me no lugar daquelas crianças que estão sozinhas num campo de refugiados e que ainda assim são capazes de rir. Engoli as malditas lágrimas. E pensei, afinal o dia está mesmo bonito, este céu azul tingido de nuvens brancas é de uma beleza.

E quando cheguei a casa pensei que viveria muitos mais momentos destes, em que o desespero parece querer ganhar espaço para depois o afundar na energia que há em mim. E na consciência do mundo, ele não existe para nós nem à nossa medida, o nosso sofrimento é afinal pequeno no imenso sofrimento que o mundo contém.

~CC~

Dia do pai

Não são simplesmente os clientes que melhor te conhecem que ficaram contigo uma vida e nunca te deixaram mesmo quando mudaste de uma empresa para outra, a minha família nunca deixou de ser também a tua família, nem deixará, aconteça o que aconteça. Como tu tens sido e feito, estado sempre, mas sempre lá nos momentos difíceis. És um ser humano raro, que sorte seres o pai da minha filha.

Sabes bem que isto dos dias tem muito de comercial, vale o que vale. Mas este 19 de Março em que estamos isolados e eu sei que a minha filha está em casa contigo, significa que estou mais tranquila do que se ela estivesse com qualquer outra pessoa do mundo, mais uma prova do que já sei, és simplesmente, como os miúdos dizem, o melhor pai do mundo. Mas nos tempos que correm, fruto da globalização universal, és mesmo do mundo e arredores. Agradeço, pois, como dizia, a Violeta, e envio prenda virtual.

~CC~

Teletrabalho

Hoje, meus caros, estive 2h de manhã em teletrabalho e 3h à tarde, isto em sessões síncronas, pois a responder a mails profissionais devo ter gasto outras duas. Conclusão, almocei a correr, não liguei a TV a não ser 15m para ouvir o primeiro ministro declarar o Estado de Emergência. Vou ter que colocar uma almofada na cadeira e com certeza aumentar a graduação dos óculos. A única coisa mais positiva foi que calcei pantufas pois só apareço no écran dos outros pela metade, razão que me levou a colocar uns brincos.

Amanhã há já outra reunião e ainda nem sequer preparei o material para a mesma. E na sexta outra. Creio que rapidamente chegaremos a uma overdose. E isto quando ainda não arrancaram em pleno as aulas a distância que terão que ser gravadas para provarmos que estamos mesmo ali. Provavelmente poderíamos estar a mentir e afinal estar no cinema, a ver um concerto ou nas compras para um outfit mais primaveril.

Há quem esteja já a delirar com isto e a reconfigurar a escola moderna, confesso não me incluir entre eles, falta-me tanta coisa, é como se os meus sentidos estivessem a ser amputados de uma parte primordial e sem ela não me oriento da mesma forma. 

Por isso meus caros, se não cumprir o compromisso "um post por dia" é porque fiquei exausta do computador ou ele de mim, ouvi mesmo dizer que eles às vezes avariam.

~CC~

Então, não somos aquele povo desenrascado e criativo?!

Liguei à frutaria de que sou cliente, uma loja pequenina, onde há os melhores morangos de toda a península. Tinham fechado, sem saber quando abrem. Sei que é um negócio familiar (mãe e filha) e estava a preparar-me para lhes dizer para me fazerem um cabaz e deixarem à porta, consciente que para eles devia ser difícil deixar os clientes entrar. A voz triste do outro lado da linha não apontou nenhuma solução. Perguntei-lhe se não continuavam a plantar e a colher lá no terreno, pois sei que a maior parte dos produtos são de produção própria, disse-me que sim. Então é fácil, exclamei eu, passo aí na horta. Do outro lado apenas um "não podemos". Nós portugueses, não temos a fama de ser desenrascados e criativos? Ou, além do papel higiénico, só sabemos esgotar a carne, o peixe, os ovos nos supermercados? Eu cá vou inventar novos pratos com magret de pato fatiado, umas lascas fininhas (a 2 euros) que parecem presunto e me parecem muito interessantes...era praticamente a única proteína disponível no supermercado.

O que vale é que ainda há negócios criativos, passe a publicidade...ora vejam...

"Continuamos aqui, por si, a pensar na sua saúde, dando alternativas, sempre a postos!"
https://pt-pt.facebook.com/tabernaportasdesaopedro/


~CC~

Um por dia...

Não é preciso muito para sair da cidade e estar sem gente, no meio do campo. E trago-o para a minha casa, deixando-a com cheiro - rosmaninho e alecrim - acabados de apanhar. Têm sido cerca de 4km diários e vi ao longo destes dias, nestes caminhos, não mais de 10 pessoas, e passaram longe. Entre o confinamento caseiro e os magotes nas praias, há mais mundo.

E quando chega aquela vontade de abraçar, abraço uma árvore.

~CC~

PS. A iniciativa começou aqui com este moço: http://pipocomaissalgado.blogspot.com/

Sitiados on line (1)

Depois das aulas, das reuniões on line (Olá colibri, como lhe prefiro chamar...com salas  e professores denominados como anfitriões ) das video chamadas, do mail, do whatsapp...recebo isto:

"PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS
almoço comunitário
O evento acontecerá online no dia 4 de Abril. Mais novidades em breve!"



Curiosos para saber como funcionará?! Eu também.


~CC~

Postal de aniversário

Tu és o meu girassol.

Pareces sempre orientar-se em direcção ao sol, absorvendo o seu calor e luz. Mas tens também a altivez da flor, como ele podes estar e crescer sozinha ou meio de uma multidão e no meio dessa multidão ainda serás sempre tu.

Nos momentos bons lembro-me do teu sorriso, nos momentos maus também, é como se fosse um ingrediente secreto que me faz ter força e viver. 

Mas preocupas-me também muito, pela dose de leveza que transportas, como se às vezes não tivesses medo de nada, sabendo eu quanto o medo pode ser inibidor mas também protector. E também pela sofreguidão desmedida pela vida, pela intensidade com que a queres sorver. E tudo isso sem santos ou anjos que te protejam, pois és adepta da pura ciência. Tenho extrema admiração pela tua persistência e inteligência. Ajudei-te a crescer o mais que pude, agora caminhas sozinha, fico aqui quase só à espera que aprecies e leves os meus cozinhados. E das conversas, das pequenas escapadelas, dos projetos de viagens conjuntas.

E fica a meu cargo convocar os anjos, as mezinhas, os poléns, os shots de framboesa e os poemas. Quando a idade avança, podemos ser tontos e eu agora sou mais, por mais que desdenhes esse meu lado. Tens que ler aquele poema sobre todos o amor conter sempre uma pontinha de ridículo, assim mais ou menos como este postal.

~CC~

Amore mio

Sabes que te escolheria sempre em primeiro lugar, depois deste em que vivo? Mais, às vezes, acho que seria capaz de trocar esta minha língua por esse teu modo cantado de falar, esse rumor que nos conta histórias se encostarmos o ouvido às pedras, essas telas, essas estátuas, essas pracetas pequeninas, essas ruas cobertas de lambretas de todas as cores, esses olhos que se colocam em nós, escuros e matreiros como nenhuns outros. Parece que há quem ame Paris acima de todas as coisas, cidade à qual sou indiferente, eu amo todas as cidades, todas as vilas, todos os campos do norte de Itália. E era capaz de amar igualmente o Sul pois já o amo pelos livros.

Florença é mesmo o único sítio em que me emocionei com uma missa, em que desejei fazer coisas patetas como colocar um cadeado numa ponte, onde comi gelados em pleno frio de janeiro. Itália, amore mio, resiste, estamos à espera de voltar.

~CC~

Destes tempos

Queres saber como estou?

Ligeiramente mais preocupada que um ser humano inteiramente saudável, sobretudo quando me recordo do que tenho praticamente apagado: as memórias da quimioterapia, a parte do pulmão que colapsou, o esófago cortado quase pela metade. Não comprei máscaras nem álcool nem reservas de comida (habitualmente tenho algumas). Ponderei seriamente deixar as aulas, as reuniões, as formações, sobretudo esta deambulação quase constante pelos territórios. Ponderei seriamente adiar toda a vida e fechar-me em casa. Mas o que faria com a minha tristeza e o meu medo? Por certo não me matariam, mas iriam minar-me lentamente.

Vou assim caminhando, ainda que mais devagar, com prudência, com receio, sem vergonha de confessar a minha preocupação, não apenas comigo, mas com todos os que amo. Não sei se precisaria desta lição da natureza, pois há muito estou consciente da fragilidade do ser humano mas tenho a sensação que alguns precisavam, sobretudo alguns políticos sentados em tronos, julgando-se superiores e a tudo imunes.

~CC~ 

Postal de aniversário

Pergunto-me sobre aquilo que mais gosto em ti.

Curiosamente, ao inverso desta sociedade que enaltece empresários e empreendedores, tu és o grau zero dessa espécie de ambição por fama ou dinheiro. Basta-te um bom vinho, uma casa minimamente confortável, uma comida de tacho, umas boas laranjas, uma viola, um ponto de acesso à Internet. Não ambicionas sequer ser feliz e talvez seja isso que faz com o o sejas a maior parte do tempo. Acho que nunca aprenderei a ser como tu, exigindo pouco da vida, aceitando o que ela me dá, mas consigo compreender e admirar. E gostar, gostar muito de ti.

~CC~

Março

Como não gostar de Março?

É o mês em que nasceram os meus amores.

Vieram, em momentos diferentes, e por razões diversas, anunciar-me a Primavera.

~CC~