terça-feira, 7 de abril de 2020

Bipolar



Uma parte de mim continua a mexer-se, quase tão freneticamente como antes. Essa parte de mim aplaude os projetos que chegam, estimula os alunos, contacta os colegas que não estão activos e deviam estar, envia mails a vários contactos profissionais, retoma formações interrompidas, comenta textos, ajuda na idealização dos cenários.

Mas há outra parte de mim que parece ter parado, chegou uma espécie de outro andamento, fui embalada por este cheiro a terra molhada, pela visão das flores campestres, pelos abraços às árvores, pela lassidão das ovelhas que pastam com tanto vagar, pelo sono do cão que dorme toda a tarde em baixo da mesa, pelo relaxamento das sessões de yoga. Faço pão em casa como quase toda a gente, tomo banho às horas que me apetece, visto-me só às vezes e demoro mais nas refeições colectivas. 

Já conhecia a minha bipolaridade Inverno-Verão e Dia-Noite, mas não conhecia a minha bipolaridade em tempos de pandemia, que é do tipo: estou aqui a reagir e somos todos capazes ou deixem-me aproveitar e descansar um bocadinho. Contudo, mesmo quando descanso, não é um descanso como os outros, é sempre como se nele se tivesse infiltrado um pouco da tristeza do mundo.

~CC~

2 comentários:

  1. Não creio que as minhas actividades tenham mudado muito. Mantenho os mesmos horários excepto nas saídas de casa que já eram poucas. E trabalho bem menos. Não vou a casa de meu pai nem de meu filho, os fins de semana são uma sensaboria mas descansados, estou muito menos tempo na cozinha, a casa está mais arrumada. Mas a falta de liberdade entristece-me deveras.

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  2. Bea, perguntaram-me no noutro dia o que me fazia mais falta e eu respondi mesmo isso: a liberdade.
    ~CC~

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