Há muito que não fazia ninguém chorar com apenas uma pergunta:
- E o seu pai, como está?
E ela desabou num choro, abandonando a cadeira do atendimento, há um minuto atrás sorria.
Há 8 anos que nos conhecemos. Todos me tinham negado tratamento e dito que era impossível. Mas ele disse-me que não havia impossíveis. Era um homem alto, forte, já de idade e não tinha um sorriso bonito como hoje é obrigatório nos dentistas actuais. Era até um pouco feio, desconjuntado na sua bata pequena demais.
Eu simplesmente tinha pavor de ir ao dentista. Ao longo da vida apenas um com um magnifico sentido de humor me tinha feito parar por lá durante um ano, ano e meio. Quando quis voltar, já o consultório não existia.
E depois este, faz oito anos, dava-me sempre um beijinho na testa como se eu fosse uma miúda.
Esclerose lateral amiotrófica, conseguiu ela pronunciar, depois de ter limpado os olhos.
Também fiquei triste e tive saudade daquele beijinho da testa, não obstante ter sido atendida por um dentista novo, bonito, profissional, e com um sorriso magnifico.
~CC~