Há coisas que nunca me cansam, pelo contrário, a sua prática aumenta a minha energia, dispara-me o coração, dá-me vida. Uma delas é descobrir poesia e poetas novos, isto é, não apenas novos e para mim desconhecidos mas admiráveis.
Eis o poema "Diário" de Francisca Camelo, são seis andamentos, deixo-vos o primeiro.
1.
perguntei-lhe
se me queria beijar
beijos pequenos
pelo meu corpo inteiro
povoar a minha pele de amor
ele respondeu
quero rebentar-te toda.
(Do livro "A importância do pequeno almoço")
Bolas, se fora comigo dava às de vila Diogo. Admito que haja quem babe por essa força amorosa.
ResponderEliminarNão creio Bea que sejam assim muitas, creio é que os homens acham que sim, a maior parte desconhece em absoluto a sexualidade feminina, é que nem se dão ao trabalho...este poema quanto a mim representa muito bem esse engano.
ResponderEliminar~CC~
Ler poesia é ato individual. É como admirar um quadro, cada um retira as suas conclusões; pode-se gostar ou detestar. É o campo de eleição da subjetividade e não carece de explicação; sente-se.
ResponderEliminarO poema que nos oferece traduz a incompreensão do feminino por parte dos homens. Vou continuar nesse registo, a brutalidade e o erotismo do que se segue, não é poesia, é apenas a esperança de um personagem em encontrar estratégias inusuais, e incompreendidas, de comunicação e consolo, porque também há que perceber o que se passa na cabeça dos homens:
- Ouça bem o que vou deixar gravado, Cíntia, para que germine dentro de você. Um dia ainda vou arrancar sua calcinha com os dentes, ho, ho, ho. O Gorila tem dentes afiados, de aço. Mas isso não quer dizer que ele seja um bruto, pois sua língua é aveludada como sua voz e faz vibrar as cordas mais íntimas de uma mulher sensível, feito um virtuose com seu piano. Como esse piano que você ouve ao fundo, Cíntia. É um prelúdio. De Debussy. Um tarado estúpido não poria para tocar um prelúdio de Debussy, poria?
(O vôo da madrugada - Sérgio Sant'Anna)
Ah, ah...estou a ver que também anda "perdido de amores" pelo Sérgio
EliminarSant´ Anna...será a poesia também um espelho em que cada um se vê, se encontra?
~CC~