quinta-feira, 17 de março de 2022

Poeira laranja

 

Com a idade os olhos ficaram cada vez mais secos, às vezes tenho de deitar-lhes lágrimas compradas na farmácia, algo absolutamente estranho, supostamente deviam produzi-las por si próprios, há tanto motivos possíveis.

Mas a minha luta centra-se no coração, ele é que não pode mesmo secar, tem que sobrar nele o dom de se emocionar. Às vezes olho-o e pouco se parece com o passarinho frágil da adolescência, esse que estremecia com a aragem, agora é vê-lo quase indiferente às poeiras laranja que atravessam os mares para nos poisar sobre as casas. 

E não há olhos que se atravessem no caminho que o façam estremecer. E nem posso culpar a poeira laranja.

~CC~

4 comentários:

  1. Mas então não há nada que aqueça esse seu coração?
    Até me apetece dizer como o Salvador Sobral, o meu coração pode amar pelos dois, sem fazer planos do que virá depois.

    PS: Se essa poeira laranja é piada política, fique descansada que não há poeira que faça murchar a rosa.

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    1. Ah, ah....não era piada...mas descanse que também não sou fã de poeira rosa, aliás de poeira nenhuma, já me chega ver cada vez pior...e precisar de comprar lágrimas:)
      ~CC~

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  2. Estou farta de poeiras, seja lá a cor que tenham. Ao coração não sei, mas nos olhos fazem mossa. A CC ganhou um coração de ferro, não há olhos onde caiba. Gostei da ideia de ir comprar lágrimas na farmácia, já tinha desvanecido quando vi em exposição um vaso de guardar lágrimas, é uma ideia espantosa. Mas a verdade é que a vida nos seca as lágrimas, o que nem é tão bom, a tristeza, essa renitente, acontece na mesma.

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    1. É ainda pior a tristeza seca Bea, sem dúvida, preferia chorar...no final do Verão consegui, fartei-me de chorar num passeio pela praia, mas depois disso, nada...e às vezes precisava.
      ~CC~

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