quarta-feira, 10 de maio de 2023

Vizinhança (I)

 

Apreciei-os como casal, sempre simples, entre calças de ganga e fatos de treino, quase sempre com um sorriso no rosto. Vi-a grávida duas vezes e fiz as perguntas triviais. Vi os dois miúdos crescer, rapazinhos, sempre de bola na mão. Acompanhei as obras e pedi-lhes a referência do construtor que rapidamente me cederam, com boas referências. Sempre tiveram cães, primeiro foi uma cadela e agora um cão. O carro deles sempre estacionado ao lado do meu, também vizinhos de parqueamento, por vezes segurei num saco ou na porta do carro quando a vi atrapalhada com os dois miúdos. Até há dois dias atrás eles eram os meus vizinhos simpáticos, aos quais admitia pedir salsa. 

Mas ouvi-os chamar pelo cão, não uma, mas umas três ou quatro vezes, as suficientes para ter a certeza do nome horrível que lhe colocaram, nome de um ditador. E num minuto até os seus rostos mudaram para mim, assim como a indumentária que usam, o modo como falam. Será possível que me tenha enganado tanto ou os anjos e os monstros podem conviver assim dentro de alguém?!

~CC~


4 comentários:

  1. À exceção da última parte, este seu post CC é um paradigma de urbanidade.
    Já pensou que o cão já podia ter nome quando chegou à posse dos seus vizinhos?
    Estranhei-a, até eu que sou preconceituoso, com a idade me tornei mais tolerante :)

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    1. Preconceito não é o termo certo Joaquim, pois isso significa um pré juizo à priori que neste caso não existia, muito pelo contrário. Diria antes que as pessoas nos são sempre capazes de surpreender, uma vez pela positiva e outras pela negativa. Se acontece até com os mais próximos, porque não havia de acontecer com os vizinhos?! Não me ocorreu que o nome tenha sido colocado por outro alguém que não os próprios...contudo, diz-me um amigo perito na matéria que os bichos aceitam bem as mudanças de nome quando ainda são pequenos. Quanto à tolerância, creio que sou bastante, não deixarei de os cumprimentar e de ser cordial mas a imagem foi abalada, como não?

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  2. Não se precipitou no juízo? Como é que um nome anula anos de boa convivência? Não pode. E deixe-se de anjos e demónios que isso não existe.

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    1. Mas ninguém falou em anular, como assim? Só no choque, no abalo da imagem...quanto aos anjos e demónios são figuras que aprecio muito, seres imaginários que nos dão muito jeito para aludir ao bem e ao mal.

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