domingo, 19 de novembro de 2023

Passeio de Domingo

 

Esta é uma forma de lembrar a Luísa e a sua crónica, a chegar (quase) sempre com a regularidade das boas rotinas. 

Em criança, a minha mãe obrigava o meu pai a levar-nos ao domingo a comer um sorvete à Baleizão que ficava na baixa de Luanda, era muito longe do sítio onde morávamos, na parte de cima da cidade. A minha mãe vestia-nos com roupa de domingo, quase sempre feita por ela própria e arrumava-se como uma princesa. Ele nem sempre cumpria e quando o fazia era com aquele ar de frete de um homem muito ocupado, sem tempo para aquelas minudências de passear os filhos. 

Nunca liguei muito a Domingos até às crónicas da Luísa e à velhice da minha mãe. As crónicas da Luísa sugeriam que o Domingo devia ser verde e os pedidos da minha mãe era para sair, para ir dar uma voltinha, manteve até ao fim esse desejo de fazer daquele um dia diferente da semana. Eu sempre fui mais de Sábados. Mas agora a vida trocou-me as voltas e agora há muitos Sábados em que trabalho. Comecei assim a gostar de Domingos, a respirar neles e com eles. Da serra ao mar, fica-me o Outono.
















2 comentários:

  1. A Luísa, como tanta gente por aqui, foi à sua vida e deixámos de caber na vida dela. Ou algum motivo de maior peso se lhe apresentou e não quis escrevê-lo. Tive muita pena. Cada um só cabe no nosso caminho o tempo que cabe.
    A vida vai-nos fazendo gostar dos dias livres. Sejam eles quais forem. Em geral gostamos do sábado porque o temos livre e sem o stress da véspera de 2ª feira. Entendo-a bem, também já preferi os sábados. Actualmente prefiro outros dias que não o fim de semana. E a CC criou amor aos domingos que antes desamava.
    É outono nessas fotos, e breve será inverno. As estações não se compadecem dos homens e seus desmandos. Teimam em ser elas, mesmo que alguma diferença avulte. Quando era garota, gostava dos domingos: almoço melhorado; no tempo quente havia laranjada; estávamos banhados de véspera e usávamos o fato de domingo, despido mal chegávamos da missa. A única pressa era para a missa das dez e trinta a que minha mãe chegava cansada e carregando o mais novo no colo. Muita vez chegou bem depois da homilia causando-me imensa pena. Não sei o que na vida a comprazia além da leitura que não fazia e de visitar a casa dos pais. Os filhos - ou apenas eu - são de um egoísmo espontâneo: eu levava minha irmã e chegava à missa a horas. E nunca, nem uma vez, me lembrei de ficar para ajudar. Tampouco ela me criticou por isso.
    Boa semana, CC

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    1. Três meninos, um de colo e um retrato de domingo...obrigada Bea, traz sempre memórias tão belamente descritas.

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