O mais cómico da quadra é esta mistura de símbolos. Temos um velhote gordo e barbudo de origens nórdicas que a coca-cola, originária do país mais anticomunista do mundo, reinventou vestido de vermelho. É intrinsecamente generoso e voa com as suas renas pelo mundo inteiro, ainda que os adultos lhe tenham inventado faceta de juiz para julgar os mais e menos merecedores, as crianças têm esperança que a sua bondade prevaleça sobre tais sentenças. Nesta altura Jesus é ainda um menino nu e pobre, aquecido pelo bafo dos animais, não obstante ser filho do ser mais poderoso e dono de todo o universo. As crianças não podem admirá-lo com o mesmo fervor do bonacheirão Pai Natal, não obstante as figurinhas dos animais encaixadas no presépio merecerem a sua simpatia.
Mas ali na loja do centro comercial tudo se resume à promoção de nesta altura se se comprar 3 peças e se pagar apenas duas e o corredor apresenta-se apinhado de lojas voláteis que antes não estavam lá, abeirei-me de uma delas e perguntei. Responderam que apenas tinham vindo "fazer o Natal", no final do mês seguiam viagem. A maior parte dos brinquedos são de péssima qualidade, integralmente feitos de plástico, irão rivalizar e vencer os peixes enquanto criaturas que habitam o fundo do mar.
São assim as minhas viagens do advento, entre o encanto e o pessimismo. o deslumbramento e o enjoo, ainda e sempre o desejo de observar o mundo, às vezes também de me enfiar nele e pensar menos.
~CC~
Brilhante descrição.
ResponderEliminarQue bom que gostou. Obrigada!
EliminarA CC é uma pensadora. Tinha boa nota a filosofia isso é certo. Por exemplo, não vendem separadas as três peças da sagrada família. Ora a mim, com três meninos Jesus em casa, só me falta um José e uma Maria, ao menino Jesus nº4 não o desejo. Mas não encontrei até hoje quem me vendesse o par que falta e lá fica o pobre sozinho, ainda por cima com um pé amputado.
ResponderEliminarNão me lembro dessas lojas só de Natal, mas também lhe digo que são todas muito parecidas. Há coisas demais no mundo. Não consigo entender para que querem robots que não tiram férias nem têm hora de almoço, que provavelmente trabalham sempre. Para quê se já não escoamos o que produzimos e a maioria não tem qualidade alguma. Há muita coisa que me intriga no comportamento humano, mesmo sem Natal.
Não fui criada com o Pai Natal, soube da coca-cola na idade adulta, e o Menino Jesus foi-me incutido desde cedo, continuo a gostar do garoto, quer o quê. Mas admito que, copiando os USA, os miúdos de hoje sejam criados no culto desse velhote simpático e bonacheirão, que acho muito bem se vista de vermelho e não associo senão à quadra (julgo que os americanos fizeram o mesmo, sem pensar em comunismo).
Boa noite
Bom, já fui criança há muito tempo, mas acho que nunca vou perder de vista a infância
Certíssimo, boa aluna a Filosofia. Caso tivesse nascido em berço mais abastado, não teria hesitado em seguir tal via.
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