A tristeza é uma pele que visto com agrado e sem medo. Dentro dela fico a nadar como quem o faz num lago pouco profundo e amigável, olhando para o céu cinzento e interrogando cada uma das suas nuvens e matizes. Dentro dela há uma chávena de chá que bebo devagar e se houver lágrimas misturo-as com essas ervas para as absorver dentro de mim. Deixo-a estar comigo por saber que me guia, me aconselha, me orienta. Às vezes ela é só minha, é a ausência de palavras que fazem falta: casa, amor, viagem. Outras vezes ela é a tristeza do mundo, é a ausência de palavras como: paz, habitação, comida. Como estar sempre feliz? Como desejar só a felicidade? Vejo-os a caminhar com esses novos mestres, artificies do bem estar que substituíram as igrejas nessa promessa. Não os quero acompanhar. Chove, é Inverno, as casas estão frias, o dinheiro nunca se poupa, os alimentos encareceram, os amigos telefonam menos, não há possibilidade de banhos de mar. Estar triste é da natureza das coisas e da minha natureza. Permanecer triste, sempre triste, isso sim é já outra coisa.
Nota: Vem isto a propósito de ter ouvido na rádio que hoje é o dia mais triste do ano.
Hoje também uma garota mo disse, murmurando que à boleia do dia mais triste há promoções de tudo e mais alguma coisa que é para a gente ficar feliz; e acrescentou sensata, "como se um creme ou uma peça de roupa, mudem a tristeza em alegria". Bom, sou contra dias de. E, francamente, haver um dia da tristeza é lúgubre e um bocadinho escusado (prodígio talvez obtido por estatística ainda mais macabra).
ResponderEliminarMas, olhe CC, que me deu muito jeito ter escrito sobre um chá - já esquecera que o meu arrefecia no micro ondas. Na verdade, com menos capacidade de síntese e de outro modo diria eu algo muito semelhante. O estar sempre triste é tão impossível como o estar sempre alegre. Temos dias. Por exemplo, gosto das 2ªs feiras todas, mais que das terças, embora algumas terças me enganem. Cada um tem os seus dias e horas seja do que for, e não por calendário. Porque, embora se apregoe a felicidade como um objectivo, se andarmos satisfeitos na rua ou no emprego olham-nos como se de repente nos tivesse saído a sorte grande; ou até mesmo com estranheza. A humanidade é do mais paradoxal, está cheia de nós górdios e outros.
Pronto, a bem da chávena de chá não ter ficado por beber:)
EliminarA tristeza é a experiência que mostra que temos capacidade de pensar.
ResponderEliminarUm abraço.
Absolutamente de acordo. Abraço
EliminarÉ na tristeza que mais me encontro com a minha alma, e também é nela que me dispo de todos os males do mundo...
ResponderEliminarAbraço
Bem vinda Soraia, um abraço.
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