Ontem perguntei a uma estudante se podia despedir-me dela com um abraço. Invulgar em mim, desconheço-me ou simplesmente modifico-me.
Decidiu fazer luto após meses a tentar sobreviver, manter-se à tona. Em três meses perdeu a mãe para o bicho mau. Nunca pensei respeitar alguém que desiste, eu fui treinada para a sobrevivência a todo o custo, para seguir em frente, para empurrar com a barriga. Erros, falhas, fracassos, tudo isso tentei sempre limpar do meu horizonte, batalhar até ao limite do cansaço. Mas hoje tenho consciência de que fui tão longe quanto a minha origem humilde e a precaridade da condição financeira me permitiu e vejo com nitidez mas sem lamentar aqueles que foram mais longe e são mais capazes que eu em tantas coisas no campo profissional. Nunca aprendi línguas como deve ser, nunca fui um às nas tecnologias, sempre me aborreci com referências bibliográficas e manobrei plataformas e folhas de cálculo com alguma dificuldade. Mesmo no uso da língua portuguesa, tenho limitações. Todas estas falhas eram motivos de descontentamento e auto agressão, inaceitáveis.
Mas deixei de me importar, hoje sou capaz de ir ter com uma estudante para a ouvir e lhe dar um abraço, é essa a semente que quero deixar, na certeza que tal não me colocará nunca no topo da carreira.
Vejo no espelho uma pessoa assim-assim, antes seria assustador e agora é confortável. Talvez tenha passado de uma visão anticapitalista do mundo para essa visão aplicada à minha própria condição humana.
~CC~
Gosto das suas crónicas.
ResponderEliminarUm abraço.
Agradeço que venha e que o diga. Também gosto dos seus poemas e quadros. Um abraço.
Eliminar:). Nunca pensou respeitar alguém que desiste. Mas não desistimos todos de algumas coisas, situações e pessoas ao longo da vida?! Quem nunca desistiu que atire a primeira pedra. Desiste-se porque dá trabalho e não estamos para isso; desiste-se porque perseverar estraga o mundo dos que nos rodeiam; desiste-se porque falta ao objectivo aquela centelha sem a qual não vale a pena andar em frente; desiste-se sabe cada um porquê e de que forma. Há desistências parciais, totais, intermitentes, e falsas desistências. E outras que nem é bom citar, só encomprida o discurso. Pois folgo em saber que abraça também os desistentes (antes não mereciam?! Ora essa, CC, parece-me preconceito). Sou quase quase de opinião contrária, raro é o professor que é lembrado pelo que ensinou, tão raro como os professores gostarem mais deste ou daquele aluno por ser o melhor da aula. O que nos conquista é sempre a humanidade de cada um, o carácter. Claro que os melhores professores, os que sabem ensinar, nos ficam, sobretudo se a entrada no curso que escolhemos depende em parte do trabalho deles. E quem quer subir para onde? Para ganhar mais, é factor não despiciendo, mas as melhores lembranças profissionais não usam escada. Enfim, admito que valorizar-se profissionalmente possa constituir o objectivo de muita gente, mas não aposto muito nas corridas ao topo. Folgo em saber que não pertence ao grupo. Ou deixou de pertencer. A vida é, em geral, boa mestra - para quem tem vontade de aprender.
ResponderEliminarE posto isto, tenha um bom fim de semana.
Ser-se sábio, é saber e reconhecer que se sabe sempre pouco, do muito que há (uma vida não chega) para aprender a saber - Quando estamos aptas, morremos :)
ResponderEliminarBeijinho