Era para ser mais uma pousada, mas venceu o lugar de memória. Se não os tivermos, tudo será ainda mais difícil.
Tenho sentimentos ambivalentes face às visitas guiadas. Se não tiver ninguém, tenho a sensação de que vagueio sem aprofundar, se tenho um guia, falta-me o deambular, o gastar tempo onde o meu interesse recai. Foi também assim no sábado passado no forte de Peniche, hoje museu da Resistência e Liberdade.
Há coisas que nós precisamos de ouvir deixando que eles entrem no nosso coração por um lado que só nós sabemos, o passado quando fala connosco tem que ser em diálogo íntimo. E o nosso agradecimento surge quando somos tocados pela dor do outro, esse caminho em que alguns deixaram a própria vida.
Uma cela a fechar-se é para mim um dos piores ruídos que este mundo pode comportar.
Eu nem fecho portas.
~CC~
Um lugar que vai deixar para os vindouros uma amostra dos anos de fascismo que se viveram em Portugal. O que aí vem... é um perigo.
ResponderEliminarUm abraço.
Visitei o Forte de Peniche antes de ser remodelado. Gostei de o ver assim velho e carrancudo. Inóspito. Apresentava-se tal como tanta gente o sentiu e ali o padeceu. Aconteceu no meu quinto ou sexto de professora, numa visita guiada, suponho que a expensas da Câmara Municipal a que pertencia a escola. Duravam ainda ainda os anos setenta, ia em trabalho e com alunos. Gostámos de aprender o que e como ali se vivia. A guia explicava e deixava-nos um bocadinho à vontade para experimentar e perguntar. Lembro as marcas da água na rocha de uma gruta quando a maré subia e os presos ali eram engavetados (castigados); estavam também as marcas aflitas de mãos, pés e pernas que queriam subir, tentativas de não afogar o corpo; medimo-nos com a altura da água e a nós ficava-nos bem acima da cabeça. Sentimos a tristeza hiante e confrangedora do parlatório; o peso da porta de entrada, o frio a encompridar o corredor, a sala onde revistavam as visitas e o lugar-depósito de presentes para os presos e que, tanta vez, não lhes chegavam à mão; os meus alunos a experimentarem o segredo, perplexos de um homem caber ali e não morrer dias e dias a pão e água; do pátio onde eram vigiados por guardas não podendo deter-se nem aproximar-se uns dos outros. E os garotos a experimentarem enquanto a guia fazia de guarda. No caso, ter sido uma visita guiada só nos beneficiou. Gosto de visitas guiadas: aprendo mais e questiono melhor quando penso no que vi e ouvi. Imagino melhor. Idealmente, faríamos uma visita guiada e, um ou dois dias depois, voltávamos e ficávamos a sós com o lugar. Porém, os ideais servem de chama, iluminam caminho. Mas não existem.
ResponderEliminarA visita ao Forte de Peniche devia ser levada a sério em todo o mundo escolar.
Gostei de saber que a CC lá foi agora que foi reabilitado.
Boa noite
Por acaso fui com o sindicato de professores, mas mais de metade já me parecia estar aposentada, espero que os outros levem consigo essa ideia de visita. Mas as escolas fecharam-se imenso, entre a falta de meios, a burocracia, a falta de vontade...preferem ligar a escola virtual (não estou a brincar, já vi acontecer muitas vezes). Obrigada Bea, pelo testemunho...
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