Portas de Rodão
Em puro contraste com a leveza que actualmente se apregoa como o caminho certo para um amor sem sofrimento, a História está cheia de amores profundos e trágicos.
Deste lado do rio, já conquistado aos mouros, vivia uma rainha cujo rei raramente estava no pequeno castelo, envolto nas muitas batalhas que havia a travar. Aos mouros, do outro lado do rio, não escapava tal solidão e numa das suas incursões levaram-na. Deste lado do rio, a rainha tinha sido raptada, do outro lado do rio a rainha deleitava-se com uma vida mais animada que na sua parca corte. O rei cristão, no seu regresso, depressa decidiu resgatá-la. Como o seu exército era parco para tal empreendimento, optou por se mascarar de mendigo e ir buscá-la. Para sua surpresa, a rainha não quis voltar, dizendo-se mais feliz daquele lado do rio. Uma humilhação que o rei não pode aceitar. Voltou para casa ofendido e rancoroso, decidido a arranjar reforços e voltar para a buscar, já não por amor (se alguma vez foi essa a razão) mas por despeito. E conseguiu. Contudo, no regresso a casa não era o resgaste do amor que estava nas intenções do rei, era a morte da rainha. E assim, decidiu que seria atirada por estas escarpas abaixo até ao rio. Consta que nos sítios onde o seu corpo tocou numa mais cresceu erva.
Curiosamente na capela um pouco abaixo ia celebrar-se um casamento. Espero que na sua história nada desta lenda se repita, ainda que fique sempre curiosa por alguém escolher estes sítios recônditos mas sem dúvida belos para se casar.
Que a sua história possa habitada pela paz do sítio onde se celebra.
Nota 1. Tudo nesta história pode ser verdade ou inventado, mas não fui eu que inventei. Há uma festa que aqui se comemora com base na lenda que referi, mas na verdade não sei qual o motivo, se o resgate da rainha, se a sua morte às mãos do rei cristão. Provavelmente já ninguém sabe.Nota 2. Se não acredito em amores leves, também não os desejo com este peso, se é que é de amor que esta história trata, suspeito que possa não ser.