Titia, que é para fazer agora?
Falam assim os meninos, uma boa parte dos meninos que encontramos nas nossas escolas. Depois dele me fazer esta pergunta, sendo a primeira vez que me via na sua sala de aula, perguntei-lhe mais coisas. Se tinha memória da Bahia que o viu nascer, ligação com os avós ou com outra família do outro lado do Atlântico. A tudo respondeu que não. Guardava apenas na fala aquele sotaque, aquele jeito doce. São estes meninos que querem colocar na fronteira, aqui e noutros lugares? Não quero simplificar aquilo que é complexo, mas algures, umas gerações atrás, eramos nós estas crianças em múltiplos lugares deste mundo, tão filhos de ilegais quanto muitos dos que connosco se cruzam.
~CC~
Que angustia que sinto neste mundo que de um momento para outro, sem quase dar por isso, aparece-me galopante pela frente: um individualismo selvagem fruto da procura desenfreada pelo sucesso e pelo lucro. Nada mais parece contar. Só aceitamos imigrantes se vierem para trabalhar, quando não forem mais precisos, corremos com eles. Enquanto a política estiver refém do capital, estamos desgraçados.
ResponderEliminarCC, que bonita descrição, parece que estou a ver este miúdo na sala de aula… por isso a angustia, a revolta e o receio que não consiga sequer lutar por esta causa.
O texto é muito ternurento, sim. Mas a questão é bastante complexa: Portugal é um país pequeno e pobre, diferente dos países para onde emigrámos em tempos (mais ricos, maiores e cheios de oportunidades de trabalho, incluindo o Brasil já que o domínio da língua simplifica a adaptação). Esses países aceitaram-nos por essa razão, havia necessidade de mão de obra barata, razão para não sermos escorraçados.
ResponderEliminarAlém do que, a par dessas crianças que chegam ou nascem já aqui, mantendo aberta a porta a todos, entra gente que não interessa a nenhum país. Um dia, a ser indiscriminada a entrada, não caberemos no rectângulo nem haverá quem aguente - existem novas doenças (que só são novas no país) e outras que considerávamos quase extintas, como a tuberculose, e que estão de regresso; seria útil verificar onde começaram os focos. A desculpa de que a pobreza é maior e o fosso entre remediados e pobres se vem avolumando, não é suficiente ainda que seja uma verdade e contribua.
Existem factores a favor da leva de emigração: preenchem postos de trabalho que os portugueses não querem fazer (tornámo-nos um país de serviços e canudos, facto preocupante); aumentam o número de nascidos; contribuem para a Segurança Social e logo, zelam também pelas nossas reformas; fazem subir as rendas de casa o que interessa a muito português sem escrúpulos. Vendem barato a sua força de trabalho, o que também interessa aos exploradores e sugadores do suor dos outros.
Portanto: apesar do nosso passado e presente de emigrantes; apesar de preencherem vagas de trabalho que não queremos; apesar de tudo que é benesse, penso que têm de existir regras que regulem a imigração. Não sei como fazê-las ou aplicá-las. Mas, se queremos dar a quem entra uma vida justa no país que temos, não me parece possível a entrada indiscriminada.
Por muito terna que seja a imagem, por muito indefesa e merecedora de atenção que seja a criança/todas as crianças, mantenho a opinião. É maravilhoso pensar que podemos abrigar todos, mas, na nossa circunstância, não é real nem possível.
Bom Dia, CC
Bea, como disse o assunto é complexo e não cabe nesta resposta. Ainda assim duas notas: a) pobreza e riqueza são relativos, Portugal é um país da União Europeia, razão pela qual não é pobre como outros, abandonados à sua sorte e completamente sós no mundo e b) para atacar a questão é preciso ir às redes de angariadores, são eles que oferecem a ilusão a troco de dinheiro e aos que lucram de forma indiscriminada com a pobreza de quem vem, não lhes garantindo as mínimas condições de dignidade e de vida. Estou de acordo com uma regulação atue sobre os empresários que contratam e nada garantem (nem casa, nem saúde, nem nada...) e que descubra quem angaria a troco de dinheiro...como sobre quem aluga casebres miseráveis sem condições sem qualquer tipo de contrato. Mas os ricos e poderosos, esses passam sempre incólumes, mais fácil ir atrás dos miseráveis...
EliminarO que diz está certo.
ResponderEliminarContudo, não posso deixar de ter em
consideração o comentário que antecede.
Abraço
Olinda
Sim Olinda, eu também compreendo o que a Bea diz. Mas a intervenção não é nem tem sido consonante...e pelos vistos, continuará a não ser, sempre mais fácil colocar uns quantos na fronteira...colhe mais votos. Abraço
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