sábado, 28 de junho de 2025

Filosofia de pacotilha

 

Aqui na mesa um casal jovem, abaixo dos 30 falou durante quase duas horas, melhor, ele falou quase sempre e ela mal conseguiu terminar uma frase. 

Ela, uma miúda negra giríssima e muito simples.

Ele, aparentemente um jovem normalíssimo, um bocado descolorado é certo, mas na realidade um filósofo em parte gerado nas redes sociais, em parte em alguma igreja ou credo ou afins, cujo nome específico não foi dito, discorreu durante mais de duas horas sobre a sociedade, a religião e a profunda diferença entre homens e mulheres...chegou a questionar se ela era católica e a criticar o facto dela usar o termo leis quando devia querer dizer regras. 

Finalmente ela disse que lhe apetecia um gelado. Creio que não haverá segundo encontro. Eu iria mais longe, apagaria imediatamente o número dele da lista de contactos. 

~CC~

6 comentários:

  1. E como sabe a CC que era um primeiro encontro?!
    Pessoas existem que se querem ouvir a si mesmas; falar para os outros é disfarce/pretexto. Apaixonam-se pelo próprio discorrer. O rapaz seria desses; com a agravante de se apoderar do raciocínio de outrem. Abundam nos dois sexos. Dantes assustavam-me, julgava-os muito à frente de mim, faziam-me sentir ignorante. Hoje apenas me aborrecem e não adianto conversa. Só que em alguns e algumas a verborreia é também solidão inteira a esguichar pela palavra, o desejo de atenção. Aí ouço, sou atenta e até me revejo. Como diz uma amiga, somos de companhia mas estamos sempre sozinhos.
    Sei, não é o caso do jovem casal, ele estaria a querer impressionar. Com falta de jeito.
    Goze em frescura o dia de domingo. Crestado, o meu Alentejo arde sem despego; abrasa noite e dia. Mas os pássaros lá fora ainda palram :).

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  2. Ele fazia perguntas muito concretas que não se fazem a alguém que já se conhece...mas raramente ouvia a resposta, interrompia sempre com alguma coisa. Verborreia é chata, silêncio também...haverá gente equilibrada? Com capacidade de escuta? Com a idade o problema da escuta parece agravar-se, as pessoas tornam-se muito autocentradas...vou fazer um esforço para isso não me acontecer.
    Abraço fresquinho

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  3. Pode ser um caso de flagelo psiquiátrico. Nem sempre é claro, para quem tem TEA, por exemplo, o momento de escutar o que o outro diz.

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    1. Olá Davi, seja bem vindo a esta rua. Acredito que haja pessoas com diagnósticos e perturbações sérias que precisam de ser apoiados e acompanhados nas suas relações sociais. Mas também se difundiu a ideia de diagnóstico de tudo e mais alguma coisa como forma de desresponsabilização social, a maior parte de nós só tem que treinar a escuta.

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  4. A autora do texto de hoje é grande observadora e do mais simples acontecimento faz a sua crónica. Sou apreciador.
    Quem sabe a pequena não admire o tal falador, há pessoas que com o seu persistente silêncio dão palco ao interlocutor.
    Um abraço.

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    1. Pois é, o quotidiano está cheio de boas histórias, os seres humanos são uma fonte inesgotável:)...bem, ela aguentou o mais que pode, acho que não estava a gostar mas não sabia como acabar...às vezes vivemos situações assim, quem é que já não apanhou um destes no seu caminho?! Um abraço

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