A mãe sempre gostou de costurar e a filha cresceu a vê-la inventar roupa e desconstruir outra já comprada. Quando receberam aquela pequena herança, ficaram a pensar no que poderiam fazer juntas e uma loja com marcas inovadoras e uma peça ou outra feita pela mãe apareceu como uma coisa que poderia trazer uma lufada de ar fresco a uma localidade pequena mas com bastantes jovens. A filha achava que já tinha passado a fase das grandes cadeias de marca e que muitos e muitas já estavam fartos de encontrar na escola e no trabalho pessoas com camisolas, calças e casacos idênticos aos seus. Talvez fosse o tempo de se ser um pouco original, de ter uma peça única.
O primeiro ano não correu mal, já o segundo chegou com a pandemia, o fecho abrupto e depois disso os múltiplos condicionamentos. Passavam tardes uma com a outra na loja vazia. Primeiro, a ideia mais óbvia foi a de criar o Facebook e o Site. Mas nem por isso as vendas cresceram muito, pois como elas, muitos já tinham tido a mesma ideia. Uma tarde a mãe disse à filha para vestir isto e aquilo e fazer um pequeno desfile pela loja, a filha brincou com ela e fê-la prometer que a seguir trocariam. Uma filmava e fotograva a outra e divertiam-se. Integraram esses pequenos vídeos nas redes socias e as visualizações cresceram, as compras também, ligeiramente. Depois disso, uns pequenos "directos" com a história das peças, desde o tipo de tecido aos vários modos de a vestir. Divertiram-se ainda mais. Mas mais do que isso descobriram nelas talentos que nem sabiam ter. Venderam um pouco mais, sem êxitos retumbantes mas a conseguir alguma compensação, a ver a luz ao fundo do túnel.
Sentem-se agora muito menos sós e ganharam esperança.
~CC~
Nota: Inspirada numa história verdadeira lida num jornal local.
Uma história sobre não desistir, nunca.
ResponderEliminarA minha mãe costurava. Sempre fez a maior parte da minha roupa. Não herdei o seu jeito para a costura. Bem que gostaria. :)
Já somos duas Luísa:)
Eliminar~CC~
Agora,somos três! :)))
EliminarAh, ah Maria, quase dá para criar um grupo, um blogue colectivo...eu sei lá:)
EliminarBeijinho
~CC~
é preciso criatividade nestes tempos de restrições.
ResponderEliminarA competência mais essencial de todas, parece-me...
Eliminar~CC~
Em todas as situações de crise surgem histórias que deram bem por insistência criativa dos participantes. São exemplares e positivas, que também há as tantas que, por isto ou aquilo, não foram tão felizes.
ResponderEliminarClaro que sim, mas devemos sempre perguntar por aquilo que está na origem das mais e das menos felizes para percebermos e isso nos ajudar a avançar, sendo que nem tudo é responsabilidade dos próprios indivíduos (como às vezes nos querem fazer querer esses arautos do empreendedorismo).
Eliminar~CC~
Que história interessante CC, de luta e resistência contra o infortúnio. Mas há quem não o consiga, quem se deixe abater e entre em depressão, umas vezes mais profunda, outras menos, mas sempre uma grande tristeza.
ResponderEliminarRecuo na minha vida. De manhã saem de casa como se fossem para o trabalho, compram o jornal e lêem os anúncios que já sabem de cor. À tarde, vejo-os na sala escura do cinema, onde podem chorar à vontade, sem que a família ou os amigos dêem por isso. Acabado o filme, têm os olhos vermelhos e inchados. Quando o subsídio acaba, vai-se também a vergonha e choram em pleno dia. Chorar de dia é completamente diferente.Trata-se de um outro nível de tristeza. Depois de enxaguados os olhos, regressam a casa à hora da saída dos empregos. Passou-se mais um dia sem ninguém dar por isso...
Joaquim, quantas histórias tristes também há e tanto que poderemos aprender com essa tristeza também, nem que seja dar uma voz e um rosto a quem sofre, isso já é serviço público e podemos fazê-lo. Vejo muitos homens desses na fila das raspadinhas, gastando nelas o pouco que têm...
ResponderEliminar~CC~